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Marcos de Noronha

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Sobre o autor

Psiquiatra Titulado pela Associação Brasileira de Psiquiatria e Conselho Federal de Medicina 
Psicoterapeuta e Psicodramatista reconhecido pela FEBRAP 
Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Cultural 
Membro da Associação Mundial de Psiquiatria Cultural e da Seção de Psiquiatria Transcultural da Associação Mundial de Psiquiatria
Membro do Grupo Latino Americano de Estudos Transculturais (GLADET) 

Com formação em diversas técnicas psicoterápicas dedicou parte de seus estudos às disciplinas que fazem fronteiras com a psiquiatria, dentre elas a sociologia e etnologia. Um dos fundadores da Associação Brasileira de Psiquiatria Cultural e da Mundial nesta modalidade. Escreveu artigos pioneiros sobre o tema nos principais periódicos científicos nacionais, além de contribuir com publicações de livros e de ter publicado o livro Terapia Social que expões de forma intimista sua trajetória e técnica. Coordena em Florianópolis seus grupos de Terapia Social tanto no setor público como privado e defende a técnica do trabalho em grupo como eficaz e mais abrangente, podendo ser uma boa opção a uma sociedade com grande demanda de distúrbios mentais e carente de opções de tratamento.

 
Eu atribuo o contato que tive com as obras de W. Reich a consolidação do meu interesse pela Psiquiatria Cultural. Sou filho de professores e sempre tive grande acesso a livros e enciclopédias em minha casa, me tornando apaixonado pela leitura.  Eu já compunha músicas e poesias mesmo antes de alfabetizado e esse meu interesse em escrever continuou com a produção de inúmeros artigos que publiquei no Brasil e em outros países quando me tornei psiquiatra. Mesmo assim, só vim a lançar um livro relatando os resultados de minha experiência profissional em 2007, cujo título é "Terapia Social - Fatores socioculturais para o conhecimento e tratamento das doenças mentais. Estratégias para reintegração social do doente mental".  
 
Entrei na faculdade de medicina em 1977 e me deparei com as limitações do ensino médico, apesar da minha escola ser uma das melhores do Brasil (Universidade Estadual de Londrina). Então procurei complementar minha formação estudando: História e Filosofia Médica; Medicina Oriental e Homeopatia. Minhas atividades em psiquiatria iniciaram-se já no primeiro ano de medicina, em forma de estágio supervisionado num hospital considerado moderno, com técnicas de psicoterapias de grupo na linha do psicodrama. À medida que ia me identificando com a profissão de psiquiatra, procurava ir atrás do que realmente me interessava na psiquiatria e na medicina. Os ensinamentos mais preciosos que obtive foram frutos dessa busca, e não, necessariamente, algo preconizado pela escola médica. Chegou um momento que a escola médica representava apenas uma obrigação e não mais uma fonte de prazer na busca de conhecimento. Ela parecia retrógrada e limitada na visão do mundo, do homem e das doenças. 
 
Depois de ter terminado a Faculdade de Medicina, procurei aperfeiçoar as principais técnicas que havia me interessado e praticado parcialmente. Meu plano inicial era conseguir uma bolsa para continuar meus estudos em Orgonomia de Reich na Europa. Foi através dele que despertei meu interesse pela Antropologia, iniciando pelas obras de Bronislaw Malinowski, antropólogo que realizou sua pesquisa na Nova Guiné, mais precisamente nas ilhas Trobriand. Enquanto aguardava a concretização de minha inscrição naquela escola conheci incidentalmente o Serviço de Etnopsiquiatria da Universidade de Nice na França o que fez mudar meus objetivos. Era um serviço que recebia muitos imigrantes e suas atividades baseava-se nos trabalhos do professor Henri Collomb, considerado o pai de Etnopsiquiatria clínica. A minha experiência considerando a diversidade cultural de algumas etnias e em diferentes regiões do Brasil e a forma com que adoeciam e procuravam soluções para seus males contribuiu para meu interesse por aquela escola que se baseava na experiência tradicional. 
 
No Serviço de Etnopsiquiatria de Nice aprendi que era possível reconhecer diversos saberes no trabalho com o doente mental. Mais uma vez eu estava numa instituição humanizada que diferentemente de outras que conhecia mantinha suas portas abertas para que os pacientes mais compensados usufruíssem de sua liberdade. Esse serviço oferecia algo que ultrapassava o que havia visto nos serviços de psiquiatria modernos com seus "hospitais dias" e atividades extras hospitalares. Naquele ambiente, a necessidade de uso de psicotrópicos era menor do que em outros serviços psiquiátricos, e não era prioridade. A comparação mais evidente nós fazíamos com outro serviço de psiquiatria, localizado ao lado, no mesmo centro hospitalar. Em nosso serviço, o paciente podia escolher, até mesmo, medicações homeopáticas ou participar de "passes" (com os magnetizadores), e outros procedimentos do arsenal de práticas tradicionais que estavam em andamento no hospital, em forma de pesquisa. 
 
Henri Collomb, em 1959, já como titular da cadeira de Psiquiatria da Universidade de Nice, transferiu-se para o Senegal, onde permaneceu por cerca de 20 anos, trabalhando e dirigindo o Hospital de Fann, em Dakar, além de ser responsável pela saúde mental em todo o território daquele país. Collomb, diferenciando-se dos profissionais ocidentais, ao invés de impor suas idéias à comunidade colonizada, procurou conhecer os modelos tradicionais dos africanos e seus valores. Um de seus principais seguidores, que o acompanhou em sua jornada também no Senegal, foi o psiquiatra Michel Boussat, que também se dedicou à psiquiatria. Michel tentou disseminar a influência recebida de Collomb pela França e por todos os departamentos franceses por onde prestou serviços. A questão que ele levantava era: em que o conhecimento da etnopsiquiatria modificaria a atitude clínica do terapeuta? Eu tive a honra de contar com um prefácio especial de Boussat em meu livro. 
 
Quando voltei da França, vim com o propósito, também, de difundir os estudos sobre Etnopsiquiatria. Usei como estratégia a apresentação de artigos nos periódicos científicos mais importantes, como a Revista da Associação Brasileira de Psiquiatria e o Jornal Brasileiro de Psiquiatria. Procurei, também, participar dos Congressos Brasileiros de Psiquiatria, difundindo esse tema e compartilhando minha experiência nos serviços, tanto da Etnopsiquiatria, em Nice, quanto da Psiquiatria Democrática, na Itália onde tive uma boa experiência. Meus estudos de revisão e alguns ensaios teóricos foram publicados e me permitiram conhecer colegas que se interessavam pelo tema. Nos congressos nos encontrávamos, trocávamos experiências e planejávamos melhores espaços para discutirmos Etnopsiquiatria. Eu havia me instalado em Florianópolis iniciando meu trabalho num consultório privado, onde desde 1985, desenvolvo a atividade que serviu de base para o desenvolvimento da Terapia Social que hoje prático de forma ampla também em comunidades e hospital público. 
  
O primeiro artigo foi publicado na Revista da Associação Brasileira de Psiquiatria - Associação Psiquiátrica da América Latina, com o título: Hospitalismo - Sintoma da Doença Institucional. Contribuições Etnopsiquiátricas em 1986.  No 11  Congresso Mundial de Psiquiatria Social, no Rio de Janeiro, também em 1986, saí em busca de mais interessados, mas não havia tanta gente assim. No nordeste do Brasil havia figuras como Adalberto Barreto e Antonio Mourão praticando a Etnopsiquiatria e eu descobri que no passado, Rubim de Pinho e Nina Rodrigues eram precursores de uma psiquiatria cultural. 
 
Mas foi somente durante o 9  Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em junho de 1993, no Rio de Janeiro, que fundamos nossa associação. Eu tinha na "Psychiatria Sans Frontières", associação francesa, um modelo a ser seguido. Porém, no Congresso Mundial, estabeleci meus primeiros contatos com a Seção de Psiquiatria Transcultural da Associação Mundial de Psiquiatria. Na época, comandada pelo psiquiatra Wen-Shing Tseng, do Havaí, que me apresentou ao austríaco Wolfgang Jilek, cotado para ser o futuro chairman. Estavam presentes também colegas, membros da Seção e residentes na América do sul, como Alberto Perales, do Peru, e Mario Hollweg, da Bolívia, que, mais tarde, se tornaram grandes amigos e incentivadores. Decidiu-se que a finalidade da nova associação seria a de "congregar profissionais de diversas disciplinas com interesses comuns em Etnologia, Psiquiatria e Sociologia e desenvolver estudos e pesquisas que possam trazer benefícios a terapia e a sociedade." A sede e a coordenação provisória ficaram em Florianópolis. Iniciei a busca de recursos e ofereci as instalações do meu consultório para organizar e manter a Associação Brasileira de Etnopsiquiatria (ABE) que depois recebeu o nome de Associação Brasileira de Psiquiatria Cultural. Mais tarde, passei a editar um Informativo (Jornal da ABE), que, além de trazer as notícias nacionais sobre o tema, reproduzia as comunicações importantes da Seção de Psiquiatria Transcultural.  
 
Fui o primeiro presidente eleito no "I Congresso Brasileiro de Etnopsiquiatria" e Simpósio Internacional de Psiquiatria Cultural realizado em Outubro de 1998 em Florianópolis na Universidade Federal que recebeu cerca de 26 professores estrangeiros e vários nacionais. 
 
Após um longo período de prática em psiquiatria, na medida em que fui desenvolvendo uma forma mais ampla de trabalho, me inspirando também nos modelos de tratamento das sociedades tradicionais, minha atenção se voltava às causas das doenças, ao invés de apenas visar a eliminação dos sintomas, como prevalecia na maioria dos tratamentos médicos. A proposta que eu desenvolvia levava o paciente a estar em "terapia" em qualquer lugar em que se encontrasse, e não somente quando estava no consultório durante sua sessão. Surgiu-me a idéia de chamar Terapia 24 Horas. Pensei em: Terapia Ativa; Terapia Integrativa; Terapia Etnopsiquiátrica; Terapia de Contexto e etc. Mas todos os nomes em que eu pensava já havia na biografia uma referência anterior, embora não houvesse, nessas terapias, os mesmos elementos técnicos que desenvolvi nessa. Exitei em chamá-la de "Terapia Cultural", mas desisti, preferindo uma denominação que conotasse algo mais amplo, enfocando a reintegração do indivíduo com seu grupo, além de sua tradição. 
 
A tal técnica se inspirava, não somente no modelo das sociedades tradicionais que enfatizavam um enfoque e participação do coletivo, mas cujo desenvolvimento tecnológico não é o mesmo que o do mundo moderno. Eu usei também, como fonte de inspiração a simplicidade e coerência das atitudes humanas, procurando fazer do momento,  um encontro o mais natural possível. Algo como resgatar o que a sociedade havia perdido no decorrer de sua história, para se tornar uma sociedade moderna, mas que ainda se conservava nas sociedades tradicionais, nas características do encontro de seus membros, no jeito de baterem papo, no seu estilo de acolher o outro, na forma de revelar e compartilhar o que sentiam e pensavam. A técnica não pretendia se limitar apenas em ser um lugar de escuta, como acontece em algumas sessões com psicanalistas ou filósofos clínicos, se bastando que tão somente essa escuta seja terapêutica por si. A escuta, somente,  por mais acolhedora que possa ser,  não parecia, para mim, solidária. Nem a passividade do silêncio, por sua vez, parecia um ato natural.  Finalmente, então, eu decidi batizar essa proposta de Terapia Social. 
 
Na Terapia Social a proposta de compartilhamento, das vivências dos participantes, à medida que o assunto em questão oferece essa oportunidade, é uma forma que proporciona menor resistência e maior interesse de todos, se compararmos com uma dinâmica onde somente o terapeuta contribui com sua oferta e de forma interpretativa e direta ao paciente. Estar em terapia, no consultório ou no dia-a-dia, seguindo uma proposta combinada, é estar constantemente disposto a reconhecer suas dificuldades, elaborá-las e ascender para um comportamento melhor. Neste processo, de reconhecer as dificuldades como algo dinâmico, o paciente tem a sensação de amparo e perspectiva de crescimento pessoal, proporcionado pelos momentos dolorosos. Em 2007, com o lançamento do livro Terapia Social, divulgou a proposta de reconhecer e utilizar recursos socioculturais no tratamento das doenças mentais. A mesma  obra foi lançada em espanhol em 2012.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA CULTURAL
www.abe.org.br
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