O artista
Eu vejo a figura de um artista, como um bobo olhando o fundo do próprio quintal pelo lado contrário do binóculo. Nesse ângulo, ele consegue vislumbrar naqueles poucos metros de capoeira, um jardim florido ou um vale encantado bem debaixo de seu nariz. São uns sonhadores, uns visionários. São espíritos peregrinos, vistos até como vagabundos pela ótica imediatista de seus contemporâneos. Despojados dos valores materiais que os cercam, se deixam levar pelo instinto, naquela missão da qual nem ele tem consciência precisa. Mas são eles que legam à humanidade os valores culturais, científicos e outros que tanto as dignificam. Um quadro pintado de uma paisagem esquecida, uma foto de um casarão que ninguém pressente que vai ser demolido, um poema jogado no fundo de uma gaveta, um canto de amor a sua terra ou uma página rabiscada de anotações a esmo, tudo são peças de um grande tabuleiro armado solitariamente na rotina do dia-a-dia, de uma comunidade mercantilista e entorpecida pela massificação dos tempos modernos. A dedicação de um médico, as mãos suaves de um enfermeiro anônimo, a atenção de um velho farmacêutico, a preocupação de um grupo para com as crianças e idosos, o carinho de um cidadão para com os animais e o equilíbrio da natureza, também são peças importantes desse tabuleiro solitário que uma hora se completa, e escreve a história de um povo. Assim são os artistas anônimos, esses bobos que olham o fundo do quintal pelo lado contrário do binóculo. No fundo, o que querem mesmo é o bem de sua comunidade, mesmo que essa o veja com os de maledicentes. Mas é desse bobo que a história vai se lembrar, e são os seus valores que se perpetuarão na memória das gerações futuras. Uma obra calcada nos valores materiais fatalmente será substituída por outra na rolança do tempo e do progresso. Uma obra de arte vara o tempo e as gerações. E o poder é efêmero. Cristo em suas pregações, jamais se referiu aos poderosos. Preferiu os humildes, os deserdados, as crianças e os lírios do campo. E disse que eles um dia herdariam a terra.
Acredite quem quiser.
Texto extraído do livro “A saga de uma raça capixaba” Pedro Teixeira (in memoriam) Escritor, jornalista e historiador.
Número de páginas | 73 |
Edição | 1 (2023) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Polen |
Idioma | Português |
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