Este Sou Eu
"Resenha"
— Este sou eu… — disse o jovem Arthur, assim que viu sua fotografia na parede.
O engenheiro e empresário Hector Bianco ficou confuso ao ver o rapaz atônito, após aquele comentário, contemplando aquela fotografia que repousava esplendidamente em um quadro emoldurado na parede de seu luxuoso escritório.
— Esse bebê do retrato sou eu! — continuou o jovenzinho de apenas dezoito anos de idade, reafirmando com convicção, enquanto, com os olhos fixos, contemplava aquela fotografia que repousava na parede.
Aquele comentário inesperado do rapaz, um reles faxineiro, deixara o então sucedido engenheiro e empresário surpreso e confuso ao mesmo tempo, principalmente ao ver que o rapaz estava trêmulo, parado diante daquele quadro emoldurado na parede, contemplando a fotografia de um bebê recém-nascido.
Havia convicção nas palavras insistentes do rapaz e seu comentário era incontestável.
— "Não pode ser!" — o engenheiro e empresário pensou em silêncio, falando consigo mesmo, enquanto ponderava naquelas palavras que acabara de ouvir, sentindo seu coração bater em disparada dentro do peito.
Seria bom de mais para ser verdade! Seria o fim de uma busca incansável que lhe fazia perder noites e noites de sono. Só tinha uma maneira de desvendar aquele enigma: aproximar-se do rapaz e conhecer os seus mistérios. E foi exatamente o que o engenheiro e empresário Hector Bianco fez. Levantou-se de sua confortável poltrona estofada e aproximou-se de Arthur que estava de costas para ele, olhando fixamente para aquela fotografia no quadro emoldurado na parede.
— O que foi mesmo que você disse, Arthur? — o empresário o indagou com a voz trêmula, assim que cessou seus passos atrás do humilde colaborador.
A voz do patrão atrás de si deixou o jovem Arthur mais trêmulo e nervoso ainda
— Quem é o bebê, patrão? — indagou Artur, com outra pergunta, plantando mais dúvidas ainda na mente de seu patrão.
— Este é o meu filho. Meu filho Arthur! — respondeu o empresário, com a voz embargada e o coração acelerado, batendo forte dentro do peito e, — Mas, infelizmente eu não sei onde ele está! — continuou ele, enquanto sentia suas pernas bambas, e suspirou profundamente, desconfiado de que estivesse diante do próprio filho.
— Mas, o que houve com ele? — insistiu o rapaz, com certa curiosidade, enquanto duas lágrimas desciam em seu rosto pálido e confuso.
Aquela pergunta insistente do rapaz deixou o conceituadíssimo empresário mais confuso ainda, pois se dias antes ele teria dito que seus pais se chamavam Osvaldo Pinheiro e Madalena dos santos Pinheiro, como aquele bebezinho da fotografia seria ele?
— Não sei, meu rapaz! Não sei! — respondeu o patrão, com o semblante triste e os olhos marejados, tentando entender melhor o que estava acontecendo; guardou alguns segundos, até que se compunha de sua profunda tristeza e, — Meu filho Arthur foi levado do seio da família ainda bebezinho. — continuou ele, explicando ao rapaz o que havia acontecido no passado e, — E desde então, nunca mais tivemos notícias dele. — disse por fim, desconfiando da insistência do rapaz.
Aquela resposta do patrão trouxe ao jovem Arthur uma grande certeza; certeza essa de que aquele bebezinho da fotografia era ele quando ainda bebezinho. Era a mesma fotografia que ele carregava consigo desde que deixara o orfanato onde fora criado. Arthur tinha plena convicção de que aquela fotografia do quadro emoldurado na parede tinha tudo a ver com a fotografia que ele guardava com tanto amor e carinho; pois uma era a cópia da outra.
— Se este é seu filho que foi levado ainda bebezinho!... — exclamou Arthur, apontando o dedo para a fotografia e, — Então, o senhor é meu pai! — concluiu ele com a voz trêmula e os olhos lacrimejantes, voltando para o empresário.
Para o jovem Arthur, aquele dia tinha sido como um dia atípico. Havia acordado bem cedinho, tomou uma chuveirada, se vestido adequadamente e, após um saboroso café da manhã, na companhia da Sra. Vivian Furtado de Souza, foi a um ponto de ônibus para se deslocar ao seu trabalho, de onde, enquanto aguardava pelo referido transporte coletivo, na companhia de outros usuários do transporte público, notou que havia um automóvel, modelo popular, estacionado no acostamento da rua; o mesmo veículo que no dia anterior quase o atropelou.
No dia anterior ele havia começado a trabalhar na Empresa Bianco, executando a função de faxineiro. Tinha sido bem recebido por seu pai Hector Bianco e posteriormente por sua mãe Silvia Gutierrez Bianco que havia se sensibilizado com sua história, prometendo ajudá-lo a encontrar seus supostos pais, Sr. Osvaldo Pinheiro e Madalena dos Santos Pinheiro, segundo o registro em sua certidão de nascimento. Naquele mesmo dia, o rapaz havia sido insultado pela socialite Mercedes Gonçalves Bianco, mãe de Hector. No final daquela tarde, após o expediente, ao retornar para o seu lar sem perceber que estava sendo seguido por um motorista que dirigia um automóvel, modelo popular. assim que desembarcou do ônibus, o motorista do automóvel veio para cima dele, na tentativa de o assassinar. Seria apenas mais um acidente de trânsito sem solução.
Hoje, diante do engenheiro, empresário e vice diretor da Empresa Bianco, estaria ele diante de seu pai biológico, Sr. Hector Bianco?
Rudinei Tavares Fick
Número de páginas | 49 |
Edição | 29 (2022) |
Idioma | Português |
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