Introdução
Antes do Criador pronunciar “cinco bênçãos” (frutificai, e multiplicai-vos, e enchei, e sujeitai-a e dominai), a Torá revela algo muito interessante na porção: וַיְבָ֣רֶךְ אֹתָם֘ אֱלֹהִים֒, “Vaievárekh otam Elohim”, “E abençoou-os Deus” (Cf. Gênesis 1:28).
Só seria possível o homem “frutificar”, “multiplicar”, “encher”, “sujeitar” e “dominar”, por conta do verbo que inicia esse passuk/verso. Estou falando nada mais e nada menos do que o verbo “abençoar”.
No Tratado Berakhôt 35a:19, os Sábios ensinaram em um Tosêfta : “Uma pessoa está proibida de se beneficiar deste mundo, sem bênção, isto é; sem agradecer, antes de desfrutar de qualquer coisa dessa vida.
E qualquer pessoa que se beneficia deste mundo sem bênção, desvia propriedade sagrada (furta de algo que não lhe pertence).
Se o próprio Criador abençoou o homem antes de proferir os cinco verbos (frutificai, e multiplicai-vos, e enchei, e sujeitai-a e dominai), o homem deve abençoar o alimento antes ou após consumi-lo.
De acordo com Mishnê Torá, Berakhôt 1:1-5, é uma mitzvá/mandamento positivo da Torá, recitar uma bênção após uma refeição, como está dito:
“E você comerá e ficará satisfeito e bendirá ao Senhor, seu Deus” (Deuteronômio 8:10).
A Torá só exige quando a pessoa está satisfeita; pois está dito: “coma e fique satisfeito e abençoe”.
Também é uma “mitzvá rabínica” abençoar cada alimento primeiro e depois desfrutá-lo. Mesmo que a pessoa pretenda comer ou beber apenas a menor quantidade possível, ela primeiro abençoa e depois desfruta.
E, além disso, os Sábios da tradição judaica estabeleceram muitas bênçãos de louvor, ação de graças e petição, a fim de que cada judeu lembrasse sempre do Criador, mesmo quando não estivesse desfrutando de algo, nem cumprindo uma mitzvá/mandamento; e é evidente que nesse caso em específico, se aplica também em nós ‘não judeus’.
É importante ressaltar, que de acordo com a Torah e o Tanach (comumente conhecidos como Antigo Testamento, a partir de Tertuliano ) o ´não judeu´ (gentio), não foi chamado por Deus para ser ‘santo’ (kadosh) e sim para ser ‘íntegro’ (tamim) e ‘justo’ (tzadik).
Reflitam sobre a fórmula das berakhôt/bênçãos pronunciadas pelos judeus antes deles cumprirem qualquer uma das mitzvot/mandamentos [estritamente judaicos]:
- Baruch atá Adonai Elohenu mélech haolam, asher kidshánu bemitzvotáv, vetzivánu...
- Bendito é Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do universo, que nos santificaste (kidshánu) com os Teus mandamentos e nos ordenastes (vetzivánu) ...
O primeiro período da frase, "Bendito És Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do universo"..., aplica-se universalmente (aos judeus e não judeus). Afinal, o Eterno é o nosso Deus (isto é, para todos os seres humanos, incluindo judeus e não judeus).
Porém, uma pergunta não quer se calar: [fomos nós ´não judeus´ "santificados"? Isto é, "separados" para uma obra específica de cunho sacerdotal, como os judeus? A resposta é, Não! Cf. Deuteronômio 7.6,7 e Êxodo 19.5,6]. Confira os textos na íntegra:
Deuteronômio 7:6,7:
- Porque povo santo é ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que sobre a terra há.
– O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todo os povos... (Deuteronômio 7:6,7).
Êxodo 19:5,6:
- ... agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque a terra é minha.
- E vós sereis reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.
Fomos nós não judeus, ordenados pelo Eterno (segundo a Torá e a Tradição Judaica) "a fazer algo que aluda a um serviço a Ele? ” Não!
Fomos mesmo ordenados a "fazer" algo ou fomos mesmo ordenados a nos “comportar” de alguma forma cúltica, segundo rituais ou cerimônias? Não!
Se apenas Israel é “kadosh” (“santo”) porque foi simplesmente “separado” como nação distinta, e diferente das demais, de que forma um não judeu pode-se dizer, “kadosh”?
De que forma um não judeu poderá recitar “kidush” de shabat, ou casar-se (“kidushin” = casamento judaico)?
De que forma uma mulher deverá sentir-se obrigada a cumprir leis de nidá , sendo que as mesmas implicam em ausência de “kedushá” (santidade), algo que precisa ser “separado” a um status antigo? (a questão é: Uma mulher ´não judia´ esteve algum dia nesse status antigo? Não!).
Onde estariam então a lavagem ritual das mãos, o acendimento de luzes de shabat, todas as recitações de shabat e das festas que implicam em “kedushá” (santificação, separação, distinção).
Bom, se eu ´não judeu´, não fui “ordenado” fazer, também não fui “santificado” para tal. Se não fui santificado (consagrado, separado) também não fui ordenado.
Se não fui ordenado e mesmo assim, faço – minto para mim mesmo – e pior, para Ele (Deus).
Se não fui separado para tal, pratico roubo (gêzel), pois estarei me apoderando de um quinhão que não me pertence.
O gentio (não judeu) não foi chamado para ser “santo”, “kadosh”, mas sim para ser íntegro (tamim), Cf. Gênesis 17.1.
Confira:
- ...Vaierá Hashem êl-Avram vaíomer eláiv: Aní-Êl Shaddai hit´halêkh lefanái veheiê tamím.
- E apareceu o Senhor a Abrão e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo Poderoso; anda na minha presença e sê íntegro.
Obs. Ser íntegro me impede de agir em conformidade com aquilo que ´não sou´, me preserva da mentira e do engano de mim mesmo e da odiosa prática de me apoderar da herança alheia.
Ser íntegro, enfim, me faz consciente do exaltado e singular sentido do termo “kadosh”, aplicável apenas àquela nação a qual o Eterno elegeu e a separou, como sua nação e povo sacerdotal – Israel.
Não é baixa autoestima. É antes, o senso do que é correto e a prática da justiça, Dinim – um dos mandamentos universais mais esquecidos por muitos.
Acredito que o caro (a) leitor (a) pôde ter uma noção básica e introdutória sobre a importância da palavra berakhá/benção, antes de mergulhar sobre os cinco verbos que foram proferidos por Deus, após ter abençoado a sua criação e sobretudo o ser humano.
Dizem os sábios da tradição judaica, que tudo começa com zêra/semente.
A palavra “zêra”, זרע é composta de três consoantes: záin, rêsh e áin. De acordo com o especialista em pictografia hebraica, Prof. Fábio Rodrigues, A pictografia revela que: A arma ( ז ) está na mente ( ר ) por meio da visão ( ע ).
A consoante záin revela-nos uma arma (instrumento de trabalho).
A consoante rêsh revela a nossa capacidade mental de progredir no momento da semeadura.
A consoante áin revela-nos o vislumbrar de todo o esforço empregado por meio da arma (ferramenta de trabalho) e de uma mente que contribui com a abertura da nossa visão.
Tudo começa com,
ז
ר
ע
Zêra (Semente)
O ‘Poder da Semente’ por Tuvia Teldon
Exceto por um fazendeiro, um jardineiro, e aqueles que cumprem uma dieta holística, as sementes parecem ter pouca importância em nossas vidas. Tentamos geneticamente criar tipos de laranjas que não as tenham, nós as cuspimos fora quando comemos melancia (se é que ainda as têm), e as evitamos como uma praga se temos diverticulite.
Porém se alguém me perguntar onde se pode ver os maiores mistérios da vida, citarei a semente. Elas são provavelmente a parte mais fascinante que existe no mundo, ainda mais que o cérebro inexplorado.
Pense a respeito. Essa semente minúscula é basicamente um baú do tesouro de DNA, preparada para (nas circunstâncias certas) trazer à vida uma variedade de seres. Olhe ao seu redor. Provavelmente a cadeira onde você está veio de uma semente, as roupas que está vestindo, os painéis de madeira das paredes da casa em que mora, quase todos os alimentos que você come, e por último, mas não menos importante – você e mais de sete bilhões de pessoas (incluindo todos os cérebros delas), todos vieram de uma semente.
Mas o que isso tem a ver com os mistérios da vida?
Bem, comecemos olhando para o chip de um computador. Considerando que ele tem tanta informação, destaca-se por si só como uma realização e tanto, resultado de centenas de patentes brilhantes.
Pode ser tão pequeno quanto a ponta de uma agulha, mas contém os dados programados para controlar muito conhecimento técnico e complicado. Foram precisos muitos anos de ciência para projetá-lo de modo a funcionar corretamente, e pode realizar muitas funções simultaneamente, cumprindo seu propósito de levar a informação necessária para o adequado funcionamento do seu computador.
Agora peguemos uma semente de laranja. Ela contém toda a informação de DNA que existe sobre o crescimento de uma árvore, com todas as complicações: fotossíntese, criar raízes, transferir água e minerais às partes do corpo, brotar na estação certa – tudo isso enquanto cria laranjas e sementes que propagarão as futuras gerações de laranjas. Porém, embora a semente de laranja seja muito maior que um chip de computador, tem uma qualidade incrível que um chip de computador não possui.
Está programada para se transformar no próprio objeto sobre o qual ela contém informação. Isso seria comparável a criar um chip de computador programado para se converter num IPhone, ou numa bola de golfe, ou em outra semente. A moderna tecnologia de computador está apenas começando a falar sobre a possibilidade de ter chips que possam ser tornar algo além do chip em si.
Se isso não atrai o seu interesse, acrescente o fato de que uma semente animal ou humana é muito mais complicada que uma semente de laranja, e uma pequena fração do tamanho do menor chip de computador, e cresce para ser algo muito mais complicado que uma laranjeira.
Tem a capacidade de impregnar um ovo, fundir seus dados imediatamente com ele para criar um ser humano completamente novo (com características únicas e diferente de qualquer outro).
Junte tudo isso, e muito mais informações que sabemos sobre as sementes, e começamos a entender que estamos lidando com uma criação biológica que é realmente além de surpreendente em seu objetivo, e muito mais complicada que o seu pequeno tamanho.
A semente é uma parte do universo que nos dá um pequeno vislumbre da infinita inteligência por trás da criação e o funcionamento do mundo.
Portanto da próxima vez que você cuspir uma semente de melancia, faça isso com respeito pelo que é uma semente. Afinal, você veio de uma.
Está escrito:
- E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra. E assim foi.
- E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie e árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie. E viu Deus que era bom (Gênesis 1:11,12).
As sementes são criadas no terceiro dia da criação (Gênesis 1:13), enquanto que o homem seria criado somente no sexto dia (Gênesis 1:27-31).
פְּרוּ
Frutificai,
וּרְבוּ
E multiplicai-vos,
וּמִלְאוּ
E enchei,
וְכִבְשֻׁהָ
E sujeitai-a,
וּרְדוּ
E dominai,
Gênesis 1:28
Número de páginas | 100 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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