Meu nome é Nicolas Tambelini. Sou neto de imigrantes italianos que para cá vieram em busca de uma vida melhor, fugindo da devastação de sua terra natal, originada pela guerra. Como a saída de lá foi às pressas, deixaram para trás o pouco que tinham, conseguido a duras penas, embarcando num navio cargueiro. Na longa viagem, comiam o que lhes era disponibilizado pelas pessoas de bom coração. Como tinham sido criados na lavoura, meus avós e seus cinco filhos, aqui foram empregados, nas fazendas dos Senhores-do-café, trabalhando de sol a sol. Era um trabalho árduo, penoso, mas não lhes faltava teto, roupa e comida. Isso tudo me foi contado por meu pai, nas reuniões de domingo, quando costumava receber meus tios para uma belíssima macarronada acompanhada de muita fartura de saborosas carnes.
Meu pai conheceu minha mãe numa feira de rua. Dessas em que as pessoas iam com sacolas e compravam aquilo que não cultivavam em suas próprias casas, ou melhor, terrenos, posto que, na época em que nasci, ainda era comum as pequenas hortas e cultivos caseiros de limão, laranja, banana, mandioca, milho e outros tipos de alimentos. O namoro deles, à moda antiga, foi muito rápido - nem durou seis meses -, casaram-se. Desse matrimônio, que até hoje me parece ter sido baseado em respeito e amor, nasceram-lhes uma filha - a Clarice - e um filho, eu. Meus pais não tiveram oportunidade de estudar além dos primeiros quatro anos de escola. Isso se devia ao fato de, como também era comum na época, meus avós darem muito mais ênfase ao trabalho, poupança, compra de propriedades e outros ativos reais, do que à cultura. Com isso, quando meu pai se viu desempregado, preocupado em manter o nível de vida da própria família, juntou algumas economias e, com auxílio de minha mãe, irmã e eu, investiu num pequeno comércio, uma pizaria,. Para minha sorte e de minha irmã, meus pais tinham outra mentalidade, fazendo com que nós dois, apesar de sacrifícios conjuntos, cursássemos faculdade.
Clarice, minha irmã, cursou Medicina, já eu cursei Direito. Sempre me senti atraído por fazer justiça - desde a época de criança, quando o sucesso das telas eram aquelas películas em que o "mocinho" aniquilava seus antagonista e saía completamente ileso da contenda, sem sequer um único arranhão.
Meu sonho era ser Juiz de Direito, preferencialmente da área criminal, sendo impelido, todavia, para a carreira policial por várias dificuldades, entre elas a falta de dinheiro e tempo para me preparar para esse tipo de concurso. Contrariando os conselhos de meu pai e afrontando os receios de minha mãe, prestei concurso para delegado, assumindo esse cargo e galgando sucessivas promoções.
Casei...
Porém meu casamento não passou pelo terceiro ano. Embora, a princípio, minha esposa, hoje ex, se sentisse atraída pelo relacionamento com um agente da lei, à medida que o tempo passava, ela se via envolvida em preocupações e temores de que um dia eu chegasse em casa num caixão. As pressões foram aumentando tanto que, uma discussão à toa, que não deveria passar de reles "Discussão de Relação", evoluía para brigas, ofensas e mágoas irreversíveis. Veio o divórcio.
Eu que planeja levar uma vida de delegado-de-gabinete, porque meu sonho era tornar-me Juiz de Direito, devido a um incidente, fui impelido a incursionar nas ruas. Tornei-me, com muito glamour e orgulho, um delegado-de-rua. Essa mudança surtiu efeito colateral negativo em minha vida familiar e fez-me rever conceitos sobre o que é legal, justo, moral e humano, reavaliando as prioridades desses adjetivos.
A minha carreira como Delegado de Polícia vai muito bem. Contudo, aquele idealismo inicial e a convicção de sempre poder agir estritamente dentro da lei deram lugar a um policial astuto, sagaz, flexível, às vezes dando ao texto legal a interpretação mais adequada à circunstância real, sem, no entanto, causar qualquer tipo de prejuízo ao cidadão de bem.
Sinto na pele a traumática diferença entre a ficção e a vida real de quem luta, ou, ao menos em tese, deveria lutar, contra a escória da humanidade.
Ah! antes que eu me esqueça, desde a infância, meus familiares me chamam de Nico, alcunha que se espalhou para os vizinhos, amigos e agora na minha carreira policial.
Aqui é Nico, Delegado de Polícia!
Número de páginas | 117 |
Edição | 1 (2016) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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