Na manhã de 12 de agosto, com um frio de inverno e com o dia ainda escuro, Maria dos Prazeres, 27 anos, estava na cozinha de sua casa, iniciando à sua rotina diária de trabalho antes de ir para o emprego. Preparava o desjejum do marido José Olímpio e a merenda escolar da filha Sofia. Enquanto trabalhava ela descarregava a sua fúria arrancando com os dentes nacos de pão e com sopros, jogava os pedaços para o seu gato de estimação. Ela odiava serviço caseiro e no emprego sentia estar perdendo sua juventude em troca de um salário miserável.
Enquanto espera ansiosa a chegada dos pães frescos trazidos pelo entregador da padaria, ela lê e relê um bilhete de seu marido encontrado juntos dos outros enfeites colados na porta da geladeira, contendo uma declaração de amor, com poucas palavras, mas que dizia tudo que ela não queria ler naquele inicio de dia. “Eu amor você, sabia?”. Como se não bastasse ter que fazer sexo com alguém do qual não amava, ter que morar numa cidade onde nada se faz a não ser trabalhar, comer e dormir, aquentar uma filha chata, ainda por cima ter de ouvir declarações de amor de um marido acomodado, pobre e idiota. Como ela gostaria de dizer o que dizem as celebridades da televisão e da alta sociedade, que enchem o peito de orgulho ao dizer que não sabem nem fritar um ovo. Cozinhar, lavar e passar e arrumar coisas, segundo a sua opinião, desde sempre foi considerados trabalhos menores e de pouco valor social. Coisas de serviçais. De pessoas sem qualificação profissional.
Número de páginas | 182 |
Edição | 1 (2010) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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