No momento de minha queda, como o leitor já deve ter imaginado, aquele pedaço de corda não suportou.
O resultado foi que caí de traseiro no chão, ao mesmo tempo em que afundava o crânio na barra de ferro da cadeira que havia virado. Com a pancada, desmaiei.
Quando acordei, sentia fortes dores de cabeça. Ainda meio confuso, percebi que estava num hospital, mas um lugar não conhecido, jamais havia estado ali.
A cidade tinha apenas uma santa casa, e eu conhecia muito bem aqueles quartos, os funcionários me eram familiares. Contudo, onde eu me achava no momento era-me absolutamente desconhecido.
Estava num sanatório.
Fiquei alguns dias me recuperando na ala médica do manicômio. O desfecho de minha queda foi uma luxação no ombro, um hematoma latente no pescoço e uma fratura no quadril. Por sorte, dizia o médico, não tive traumatismo craniano.
Se tivesse tido sorte, pensava, eu não estaria aqui.
Depois que recuperaram meu corpo, quiseram-me recuperar a alma.
Era, o que se diria, a tarefa mais difícil e importante àquela altura.
Mas, para um suicida, pouco importava o que viessem a fazer.
Meu infortúnio era ficar preso, trancado num mausoléu de almas perdidas, sem a liberdade que tanto prezava.
Nem me lembro quanto tempo fiquei enclausurado.
Tomava as medicações que me serviam, conversava diariamente com os psicólogos, e como me julgaram amansado, deram-me alta.
Fizeram um estardalhaço com minha família. Disseram a eles que me vigiassem todo o tempo, que eu não poderia ficar nem um minuto sequer sem a companhia de alguém.
Eu pouco me importava.
Haveriam outras oportunidades.
Número de páginas | 111 |
Edição | 1 (2010) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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