Diderot está preocupado em conceber o inconcebível: como é que um sistema ou uma forma ultrapassa os seus próprios limites para alcançar o que dentro desse mesmo sistema ou forma era antes inconcebível? Em outras palavras: como se articulam memória e imaginação?
A pergunta domina a "Carta sobre os Cegos para Uso dos Que Vêem", um texto de juventude que inaugura o pensamento materialista do autor, num estilo provocador e por vezes sarcástico que o levou a ser preso em 1749 pelo regime repressivo de Luís 15.
O pretexto da "Carta", ao comentar uma experiência de remoção de cataratas realizada na época, é indagar até que ponto o cego de nascença pode ver se lhe for restituída a visão. Diderot conclui pelo bom senso: para ver, não bastam olhos, é preciso que os olhos aprendam a experiência da visão.
Antes de chegar a essa conclusão, porém, o autor faz umas tantas digressões, e é nelas que se revela a questão que ele tanto persegue.
Diderot usa o cego como metáfora dos que enxergam. É a imagem possível para nos fazer entender os limites que nossa visão não nos permite ver. O exemplo dos cegos relativiza a onipotência da metafísica e da razão e mostra o quanto elas estão ligadas aos nossos sentidos, o quanto são dependentes dos corpos que as produzem: "Se alguma vez um filósofo cego e surdo de nascença fizer um homem à imitação de Descartes, ouso assegurar-vos (...) que colocará a alma na ponta dos dedos; pois é dali que lhe vêm as principais sensações e todos os conhecimentos".
Diderot não está apenas atrás da consciência da dúvida. Quer compreender o que permite ao homem escapar aos seus limites para ver o que não pode enxergar, imaginar o inimaginável. Procura a gênese do que o leva a inventar e descobrir, à grande arte e à grande ciência.
Número de páginas | 0 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Colorido |
Tipo de papel | Offset 75g |
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