Charlie

Charlie tinha tudo o que um garoto podia querer, menos aquilo o que ele próprio considerava essencial. Não era para ser um dia especial quando escolheu enfrentar seu medo de skates no shopping frequentado por seus colegas de escola, mas as coisas mudaram assim que conseguiu enxergar bem no meio da praça de formato quadrado que é povoada quase exclusivamente por casais, a menina pela qual, já tinha até aceitado, era apaixonado; Popi. Do seu lado, pôde identificar ao apertar os olhos e se aproximar, seu melhor amigo. E não era à toa que Johnny se encontrava ali, apertado à garota com a qual ambos tinham crescido. E não é que os dois se beijaram? Na boca! Que atrevimento! Nesse momento, Charlie percebeu, era sim um dia especial. Uma quinta-feira muito especial... Ele só não sabia o quanto.

Mais tarde naquele mesmo dia, Charlie amaldiçoou sua vida e tudo o que tomava como sagrado. Se deitou repassando os gritos e palavras tortas trocados ao confrontar os amantes adolescentes, e, com todas as suas forças, fez um pedido. Pediu a quem quer que o escutasse, que arrancasse do seu peito aquelas coisas terríveis que só faziam por machucá-lo. Pediu que arrancassem-lhe os sentimentos. Foi nessa noite que uma dor de cabeça tomou conta de seu corpo e, por alguns segundos, Charlie perdeu todos seus movimentos. Antes que pudesse entender o que acontecia, caiu no sono induzido. Ao acordar de uma noite tão conturbada, relembrou do desespero que uma dor tão singular lhe causara. Lembrou daquele outro tipo de dor que sentira ao ver sua futura namorada nos braços de seu amigo... Lembrou até da cor da roupa de cada um... Só não pensou no pedido que havia feito. Só não pensou na remota possibilidade de ter seu pedido, atendido.