(...)
A conversa não se ouvia, mas pelo vão da porta, o guri não piscava. Manter sempre os dois olhos abertos. O mundo parou. Não respirava, estava concentrado como nunca antes. O sol entorpecia a cena, via-se os dois lá fora, mais nada. Só haviam dois. Conseguia ver a feição do homem. Era de ódio. Saberia o que fazer, fosse o que fosse. O compasso era o do coração e, se algo do lado de fora da casa o descompassasse, ele tinha de atirar. E foi em um segundo, aqueles dois homens, que conversavam frente a frente, corpos inertes, mudaram em um movimento brusco. Duas pistolas, um tiro surdo, o som das palmeiras gracejando com a brisa. Um homem em pé, o outro caído. Morto.
E quando os olhos piscaram finalmente, aquele guri virou homem. Cresceu em um segundo. Entendeu o mundo. Saiu detrás da porta e foi à frente da casa. Seu pai com a pistola ainda em punho. Olhava o homem que acabara de matar, para não morrer. Era esta a lei. E dos olhos daquele gigante escorreu uma lágrima muda.
ISBN | 978-65-002-3886-0 |
Número de páginas | 120 |
Edição | 1 (2006) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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