O Poeta atravessa o tempo...
“A noite ensanguentada de corais
Raptava a luz da manhã nascedoura
Que das mãos de Deus escapava”.
É no princípio universal da criação, manifestado na força energética do átomo criador, que “o mistério da vida libertou a matéria”, e no “eterno esquema de expansão e contração”, que nasce a contemplação identificativa da “estranha condição humana” em que Wanderley Beraldo se inspira. Entre o apuro da forma vocabular e a liberdade plena, o poeta deixa fluir, livremente a mensagem através de si, em versos brancos e rimas ricas, seguindo uma cadência que ora nos lembra Camões, ora Dante e Vergílio, para no declínio dos cânones, tradicionalmente, clássicos, dar vazão ao livre-crescente das mensagens sociais que se não desprendem do eterno interrogar do Homem em relação a si mesmo e do real de cada dia que ele atravessa no Tempo. Tangenciando o místico e o material, o poeta é convincente quando diz “Fui gerado durante séculos”, como se a presença da eternidade estivesse concentrada na gestação infinita e na manifestação evolutiva da existência do Ser, tendo como resultante o descobrimento do Homem, na memória, menino, que gradativamente, torna-se adulto, em toda a sua plenitude, com o encargo de optar, desde cedo, entre o Bem e o Mal. Numa linguagem direta, surge a conscientização da escala de valores do Homem e do seu evoluir, formando a essência poética na síntese criadora desse jovem escritor. Homem-menino, mais menino em “Rosa Azul”, mais adulto em “Quando eu era pequenino”, o poeta projeta-se na Razão e a partir daí, na busca do equilíbrio para os antagônicos valores que questiona. Descobre o amor. E amante solitário “lança um grito que reverbera entre as grimpas cósmicas ecos dispersos, pressentidos nos recônditos da alma daquele que sofre da mesma solidão, ” Solidão-menina, quase saudade do lar ecológico, habitat natural que abrigou o Homem em suas buscas, seus conflitos, suas paixões. Não ao Celibato, diz o poeta. Sim, à musa inspiradora. Sim aos filhos e à “Terra Prometida”, donde emanam o leite e o mel. Sim ao Homem-reação do contexto social no aqui e agora, Homem-hoje, localizado no Tempo e no Espaço, que busca a Justiça e a Igualdade, que luta contra a alienação do Homem pela máquina robotizada que se impõe, subjugando-o, transformando-o em MARIONETE de sua própria obra. Forte é a busca. Forte é o ideal. Forte e a luta nesses versos humanamente profundos de WANDERLEY BERALDO.
Cleide Veronesi
São Paulo, 1982
Número de páginas | 148 |
Edição | 3 (2023) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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