Perscrutar a alma de um livro, a alma de um poema ou a alma de um poeta é tarefa laboriosa, complexa e delicada; contextualizar as relíquias dessa alma de forma sumarizada, é um ofício ainda mais minucioso, quiçá impossível.
Sob o prisma biológico, as pessoas são realmente fascinantes: células interagindo em perfeita harmonia a favor de uma existência cognitiva em constante evolução, onde sinapses e reações metabólicas promovem o pensar, influenciam o agir imaginativo e determinam o fazer racional. Quando essas pessoas nascem com dons e talentos artísticos aflorados, nelas se revela um outro prisma de admiração: o prisma artístico-criativo. Por esse segundo prisma, as pessoas se mostram ainda mais fascinantes. O poeta é assim; Jonas Rogério Sanches é assim. Quando os sentimentos e as emoções deflagram em Jonas o processo de transpiração artística, o que vemos como resultado é tão rico e belo que muitas vezes chegamos a pensar que o artista nem pertence a esse nosso mundo material, que às vezes ele estranha o seu próprio invólucro físico: é o enlevo causado pela poesia.
A poesia de Jonas que acontece aqui neste livro é bela, reluzente, fascinante. Em seus poemas, o fator da musicalidade está sempre presente pela menção de arranjos e acordes que nos proporcionam uma harmonia agradável, suave e equilibrada quando os lemos. Além da musicalidade, Jonas traz frequentemente à poesia imagens telúricas que grassam entre o real e o irreal, se comportando como alucinações psicodélicas de uma lucidez pujante. É também flagrante que sua lira produz metáforas em abundância. Não raro, o poeta povoa ricamente suas composições com figuras míticas que parecem se divertir entre os versos, num cenário lírico pleno de luzes e cores.
Os poemas de Jonas dispensam rótulos. Se são poemas ou metapoemas parnasianos, arcadistas, românticos ou modernos, para o leitor parecerão quase sempre versos conceituais, escritos com o cerne de sua alma inquieta, generosa e em constante erupção criativa. Trata-se de uma alma poética distinta que se forja na inconcretude dos seus pensamentos, que se lapida em sua avidez por desvelar sentimentos e açoitar os seus medos, companheiros de jornada de um poeta que renasce diariamente na plenitude daquilo que ele confessa como solidão efervescente.
Nesta coletânea de poemas, o Poeta Jonas Rogério Sanches se desnuda artisticamente e revela um eu-poético que grita pelo sol e pela lua, que conta estrelas e que se encanta com a amplitude do firmamento em sua busca de voar para dentro de si mesmo; assim, ele adormece enfeitiçado e acorda sob os aplausos dos raios refulgentes que emanam dos seus estros. Elementos siderais são referências recorrentes na poesia de Jonas, de onde jorram lavas de inspiração incandescente se transformam em pérolas, carinhosamente guardadas em seu alforje cósmico de valores e conceitos.
Ademais, Jonas tem uma incrível capacidade de se abstrair do cotidiano e perpetrar os meandros do seu próprio universo. Lá, ele vê cores invisíveis, ouve a retumbância do silêncio e toca a inconsistência do belo. Em seus versos criativos aqui apresentados, vemos que até mesmo as letras confabulam, constroem e desconstroem emoções, lapidando incansavelmente o êxtase e o enleio da poesia até obter a cristalinidade por ele almejada. São poemas que evocam a filosofia, o auto-conhecimento, a subjetividade do pleno, objetividade do vazio, o misticismo, a sabedoria, a fantasia e as tramas secretas que pontilham a cizânia entre os paradigmas do seu sentir em poésis.
Ler esta obra de Jonas Rogério Sanches foi para mim, acima de tudo, um imenso prazer: foi uma viagem aos mais férteis vales da sexta arte, um mergulho profundo em águas revoltas e translúcidas de pureza poética onde encontrei verdadeiras relíquias da alma de poeta extraordinário.
Jorge Montenegro
ISBN | 978-85-914088-3-2 |
Número de páginas | 166 |
Edição | 1 (2012) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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