Na década de l960 a televisão já estava totalmente incorporada aos hábitos dos brasileiros. As notícias chegavam aos lares na hora que aconteciam. Só que o ano de 1968 foi diferente dos demais porque os protestos dos estudantes iniciados em Paris influenciaram o mundo, via televisão, a ponto de até surgir os “rebeldes sem causa”. As velhas ordens sociais estavam vindo abaixo. A rebeldia contra a cultura reinante, o comportamento que impunha a submissão aos mais velhos, a política voltada para o capital, tendo os jovens que esperar a sua independência econômica para opinar, enfim estava chegando ao fim. Maio de 1968 entrou para a história como gatilho de um movimento global de contestação do establishment deflagrado pela inquietude de jovens de vários cantos do planeta – principalmente das capitais da Europa.
Em Paris, estudantes se armaram de paralelepípedos para defender nas ruas o direito de pedir o impossível e proibir as proibições. Acontece que sem leis e regras reinam a baderna. Na Tchecoslováquia, A Primavera de Praga gerou um clamor por liberdade que seria calado pelos tanques soviéticos, criando no país e mudando a história das esquerdas mundiais. Em Berlim, a juventude alemã rejeitava o sistema e questionava a geração de seus pais, que haviam convivido com o nazismo. Foi também em 1968 que outra revolução aconteceu: longe das ruas, entre quatro paredes, jovens germinavam a liberação sexual, tendo como combustíveis as drogas e o rock and roll.
Enquanto no Brasil, os protestos eram contra a ditadura militar. Os ingênuos achavam que com o retorno das eleições a coisa mudariam para melhor. Ledo engano. Os políticos que estavam apoiando a ditadura vinham de governos anteriores e usavam os militares para continuarem mandando e desmandando pelos grotões afora. Quando a ditadura naufragou, todos eles pularam para oposição para continuarem mandando.
Enquanto isso, os jovens amavam os Beatles, se reuniam para ouvir o poeta Alan Guinsberg recitar, e faziam pequenas provocações ao regime. Tinham em torno de 20 anos e aproveitavam com sofreguidão os ventos literários que sopravam. A moda naquela primavera era gola rulê, mas quem usasse cabelos compridos ainda poderia ir parar na prisão ou no hospital psiquiátrico. Filhos de operários, eles ouviam noticias do Ocidente pela Vos da América ou pela Radio Luxemburgo e encontravam-se todos os dias pela periferia de Praga, atrás da nova banda de rock ou da tradução de uma poesia, mimeografada e passada de mão em mão – enquanto a televisão estatal exibia continuadamente um filme que mostrava uma apresentação do balé russo. No Brasil, para ser mais exato, a juventude se reunia todas as noite no Bar do Torresmo e, entre um porre e outro discutiam os acontecimentos mundiais e nacionais, achando soluções para todos eles, até caírem de bêbados e irem parar no Pronto Socorro para tomarem nas veias injeções de glicose e se prepararem para a ressaca do dia seguinte.
Número de páginas | 182 |
Edição | 1 (2010) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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