Hilton Rafael de Souza e Silva

O poeta sem coração
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Disseram-me que os poetas escrevem
Aquilo que vem no coração
Mas um dia, rodando pelo mundo
Eu encontrei um poeta sem coração.
Eu perguntei a ele como escrevia
Afinal como poderia
Ser um poeta, sem coração
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Ele disse eu não sou, eu fui
Um dia eu fui um poeta
Quando eu tinha um coração
Hoje já não sou mais
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E o que aconteceu com o seu coração?
Foi arrancado de seu peito?
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Se tivesse sido arrancado, eu teria percebido
Se tivesse sido roubado, eu teria notado.
Se tivesse sido destruído, eu teria sentido
Se tivesse sido machucado, eu teria visto.
Se tivesse sido guardado, eu saberia onde.
Mas ele sumiu
Sem que eu percebesse ele fugiu
Eu vi ele partindo e o deixei
E quando me dei conta, já era tarde
Ele já não estava mais aqui
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E como é não ter um coração?
Sem um coração, é difícil sofrer.
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E isso não é bom?
Não, não é.
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E porque não?
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Se você gosta da luz, é porque ela te salva das trevas
Se você gosta da beleza, é porque sabe o que é feio
Se você gosta é porque sabe o que é odiar.
Mas e se você de repente não pode mais sofrer?
Não pode mais sentir?
O que é a felicidade?
Eu esqueci.
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E o que fará você sem um coração?
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Eu pagarei a minha pena
Como um ser vazio de sentimentos
Exaltando a solidão
Mascarando a felicidade
Vivendo de ilusões
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A realidade é cruel criança
O mundo faz seu coração partir
Ele leva embora suas esperanças
E esmaga seus sonhos
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Para onde você vai?
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Eu vou embora
Seguir meu rumo sem destino
Procurar um sentido sem sentido
E juntar-me a multidão
Eu fiquei velho e cansado
E já não há para onde ir
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Você me escutou criança?
Sim.
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Então está tudo bem.
Dentro das suas memórias
Eu viverei para sempre
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Ser poeta é assim.
Não importa quantas vezes eu morra.
Palavras,
São imortais.