Sou filho de pai e mãe que não tiveram acesso ao ensino regular, ficaram analfabetos. Analfabetos como seus irmãos, pais, avós e gerações sucessivas de nossa família. Sou da primeira geração letrada dessa família que segundo minha mãe, vivia nas trevas por não saber ler ou escrever.
Meu pai morreu aos quarenta e dois anos de idade. Era um homem inteligente, com delicada leitura da realidade e contradições da sociedade. Minha mãe, ficou solitária e aflita, sem o marido, assumiria todas responsabilidades da casa, não ser alfabetizada nunca foi tão aterrorizante para ela.
Certa vez ver convenci minha mãe a frequentar um curso noturno para alfabetização de jovens e adultos. Depois de três aulas ela desistiu, se queixou que a professora tratava os alunos como se fossem crianças.
Desde a primeira tentativa de minha mãe ser alfabetizada, até quando a convenci novamente a estudar se passaram vinte anos. A diferença era que no novo recomeço eu seria seu professor.
Não é fácil ser professor da própria mãe, ao menos da minha mãe. Foram muitas interrupções, muitas desistências. Obstáculos que contornei com paciência .
Minha mãe é muito inteligência, sempre admirei sua capacidade de fazer leituras políticas da sociedade. Se tivesse tido acesso ao ensino regular ou vivido em um meio no qual sua inteligência não tivesse sido marginalizada por ser ela analfabeta, tenho certeza, minha mãe teria sido uma das grandes personalidades de sua geração.
Mãe me ensinou muitas coisas, nunca deixou que nos escondêssemos atrás das histórias tristes de misérias e fome da nossa família para conseguirmos algo, seu lema é: “para cima do medo coragem”. Minha mãe não é um espírito que recua diante das dificuldades, nem nunca se sente menor diante pessoa alguma. A vida difícil e de exclusão que teve alimenta sua coragem, sua força e paixão pela vida.
Chegou o dia em que aprender os mistérios das palavras escritas, como me disse minha mãe, era necessário. Começamos nossos estudos, seguramos nossas mãos e fomos aprendendo junto. Quem ensina também é aluno de quem está aprendendo.
Escolhi o método Paulo Freire como guia para as aulas de alfabetização de minha mãe. Partindo do universo vocabular dela fomos construindo degrau por degrau suas conquistas.
Número de páginas | 42 |
Edição | 1 (2022) |
Formato | A4 (210x297) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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