Breve história do Rio Grande do Sul: da Pré-história aos dias atuais constitui-se com o conteúdo dos cursos de História do Rio Grande do Sul I e II apresentados aos alunos de graduação em História da Universidade de Passo Fundo, em 1996-2009. Publicado em 2010, ele pretendeu apresentação geral sintética da história dos atuais territórios sulinos nos mais de 340 anos que separam a fundação de Sacramento, em 1680, nas margens do Prata, aos dias atuais. As fronteiras geográficas do estudo são, portanto, os limites políticos do Rio Grande atual, superados quando imprescindível à compreensão de temas abordados. Um recorte arbitrário, em região como o extremo-sul do Brasil, determinado e inserido na história da bacia do rio da Prata, o que exigiria narrativa unitária supra-nacional da formação dessa região.
Antes da presente edição consolidada, publicamos quatro breves ensaios sobre a história sul-rio-grandense, como cadernos e, a seguir, livros. O presente trabalho mantém a divisão político-cronológica original: ocupação do território; Império; República Velha; Revolução de 1930 até os dias atuais. O primeiro capítulo apresenta leitura sintética do processo geral de ocupação dos territórios sulinos, da Pré-História às décadas finais do Império. Procura, sobretudo, visão geral de cenários abordados a seguir em forma mais sistemática e detalhada. A essa primeira parte, seguem-se as abordagens da pré-história; das missões guaranítico-espanholas; dos caminhos tropeiros sulinos; da econômica pastoril-charqueadora escravista; da chegada dos colonos-camponeses de língua alemã.
A apresentação do período imperial no Sul aborda mais amplamente a independência no Brasil, em 1822, procurando apresentação compreensível da inserção sulina naquele evento e de suas influências regionais. A continuidade da ordem pastoril-charqueadora escravista, após 1822, permitiu enfatizar a análise político-social do período imperial no Sul, com destaque para a guerra liberal-separatista de 1835-45. Com a abordagem da imigração colonial-camponesa italiana, a partir de 1875, destacou-se importante base da superação econômica do meridião pelo setentrião sulino, na qual se assentaria o Rio Grande republicano.
A recente consciência do caráter dominantemente escravista da antiga formação social sulina enfatiza ainda mais o desequilíbrio entre o conhecimento da história político-social do Império em favor da história da República Velha, no Rio Grande do Sul. É paradoxal a ausência de história categorial-sistemática geral da produção pastoril rio-grandense, como possuímos para o Uruguai e a Argentina. Sobre esses hiatos se levantam os mitos fundadores e apologéticos da sociedade sulina, cuidadosamente cultuados e defendidos. Um melhor conhecimento da crise do escravismo sulino lançará luzes novas sobre a história política do fim do Império no Rio Grande do Sul.
A consolidação da República federalista permitiu a reorganização fortemente autonomista do Rio Grande, interpretada singularmente pelo republicanismo rio-grandense, de clara orientação antioligárquica, singularidade em todo o Brasil, onde seguiram dominando as oligarquias agrárias. Realidade que entrou em crise no final da República Velha (1889-1930). A abordagem da Revolução de 1930 e do Estado Novo no Sul exigiu referência mais extensa à história nacional, à qual o Rio Grande se subsumiu em forma crescente, em condições decrescentemente favoráveis. Este último e mais próximo período histórico é pouco estudado, em relação à República Velha. Talvez porque registre o fracasso fragoroso das classes dominantes regionais em acaudilharem a sociedade sulina.
Faltam-nos estudos sistemáticos sobre importantes momentos históricos, como as tentativas de relançamento regional do Rio Grande pelos governos de Flores da Cunha (1930-1937) e de Leonel Brizola (1958-1962), seus objetivos, bases sociais, razões de seus fracassos. Também faltam-nos estudos detidos sobre o Rio Grande durante a ditadura militar (1964-1985) e após ela, com destaque para o governo de Antônio Britto, que iniciou a liquidação da longa obra regional autonomista impulsionada pelo castilhismo-borgismo e mais tarde, por Leonel Brizola.
Por trinta anos, até 2010, investigamos, de forma sistemática, algumas das importantes questões abordadas no presente trabalho. Na sua redação, somos profundamente devedores de autores mais ou menos conhecidos. Devido ao caráter desse nosso trabalho, eles foram, em geral, apenas arrolados na bibliografia final, pequena parte da valiosa produção sobre a sociedade sulina, que se tem espraiado portentosamente, no que diz respeito à história, sociologia, arquitetura, economia, literatura, linguística, antropologia, etc. A ausência de citação direta dos autores nos quais nos apoiamos não deve sugerir originalidade nossa, quanto a muitas interpretações mesmo centrais apresentadas.
É patente no presente trabalho a ausência de abordagem da língua, literatura, música, teatro, arquitetura, como registros, expressões e elementos constituintes do desenvolvimento histórico-social sulino. Ela se deve, sobretudo, à assinalada confecção inicial do presente trabalho, como material do Curso História do Rio Grande do Sul I e II, necessariamente limitado.
Registrem-se o caráter exploratório e certamente imperfeito de nosso estudo, ainda mais no contexto do avanço da historiografia regional nos últimos dez anos. Com o rápido esgotamento da edição de 2010, nos propusemos suprir alguns dos hiatos assinalados e realizar revisão e atualização do texto. Entretanto, o adágio diz que “O homem põe e deus dispõe”. Um ano antes daquela publicação, empreendi, por uma década, estudo sobre os Estados da bacia do rio da Prata e a Guerra da Tríplice Aliança contra a República do Paraguai, sobre a qual escrevi uma história geral. Devido à atual pandemia, terminei mais de um ano preso em Gênova, na Itália, longe das bibliotecas e centros de documentação sulino. Aproveitando a reclusão, empreendi entre outros trabalhos, a presente segunda reedição, sem atualização do corpo do texto, fora considerações rápidas sobre os últimos anos, para edição virtual, com eventual atualização e expansão futura.
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Breve história do Rio Grande do Sul: da pré-história aos dias atuais descreve os pouco mais de três séculos de história sulina, tendo dois grandes fios condutores: primeiro, a luta dos explorados e submetidos de ambos os sexos - nativos, cativos, caboclos, posseiros, colonos, artesãos, operários, etc.; segundo, o processo de dependência colonial e semi-colonial sulino, durante os períodos luso-brasileiro e imperial, enfatizando-se o esforço pela autonomia regional, durante a República Velha, com a submissão dos trabalhadores, e quando dos governos de Flores da Cunha e Leonel Brizola, com a submissão-associação das classes operárias.
A partir dos anos 1937, trincou-se a autonomia regional relativa alcançada quando da República federativa. Deste então, o Rio Grande sofreu crescente subjugação pelo capital nacional hegemônico e, a seguir, mundial. Isso, no contexto da incapacidade-pusilanimidade das classes dominantes regionais de acaudilharem a emancipação regional, e o fracasso das classes trabalhadoras regionais-nacionais de as substituírem naquele processo.
Vivemos hoje a agonia final da autonomia regional, no contexto da submissão de toda a nação, com salto de qualidade após o golpe propiciado, em 2021, pelo imperialismo e pelo grande capital, em processo de consolidação. Realidade que descrevemos, com maiores detalhes em nosso livro Revolução e contra-revolução no Brasil: 1530-2019.
ISBN | 978-65-876-8103-0 |
Número de páginas | 286 |
Edição | 2 (2021) |
Formato | A4 (210x297) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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