Entre os Ocultistas nos últimos cinquenta anos tem havido uma tentativa em estabelecer uma equivalência entre as Sephiroth da Árvore da Vida e os cakras da cultura tântrica. Se a Árvore da Vida contém tudo em nosso Universo, tanto acima quanto abaixo, deve haver algum lugar nela que os represente. Uma vez que tenha se aceitado que existe uma equivalência entre as Sephiroth e os cakras, logo nasce a indagação acerca da relação entre os vinte e dois Caminhos – os Atus de Tahuti – e as Sephiroth ou zonas de poder. Estes Caminhos, entretanto, foram relacionados às nāḍīs dos ensinamentos tântricos. Nāḍī é um termo sânscrito que significa torrente ou fluxo, quer dizer, aquilo que flui livremente. Este é o nome dado aos canais por onde circula o prāṇa ou energia vital. Eles conectam os cakras e levam energia as diversas partes do corpo psíquico e sua contraparte física. Os cakras são casas de energia e literalmente a palavra significa roda.
No entanto, toda a doutrina do Tantra acerca da estrutura psíquica «cakras, nāḍīs, kuṇḍalinī» e a maneira correta de manipulá-la envolve o conceito de Śakti, a Deusa. Śakti é uma palavra sânscrita que significa poder, mas para todos os efeitos, em estado potencial. Existe uma parábola nos tantras que diz que no Infinito, antes da criação, a Deusa dividiu-se em dois estados conhecidos como Mente e Corpo. A essência da Deusa repousa eternamente no ājñā-cakra, de onde ela começa a se projetar para baixo, vibrando «spandana» em direção a terra na busca por seu Corpo. Nesse processo, a Śakti cria diferentes estados de realização, os cakras, começando pelo viśuddhi, atribuído ao Espírito, o anāhata, atribuído ao Elemento Ar, o maṇipūra, atribuído ao Elemento Fogo, o swādhisṭhāna, atribuído ao Elemento Água e o mūlādhāra, atribuído ao Elemento Terra. Ao fazer de sua morada o mūlādhāra-cakra, o processo de criação se encerra e a Śakti se recolhe em sono profundo. É neste estado que ela é conhecida como kuṇḍalinī-śakti. Uma possível tradução desse termo que se enquadra na descrição do tema é poder recolhido e na Tradição Esotérica Ocidental ela é identificada apenas pelo nome de Serpente de Fogo ou Fogo Serpentino. Quando aprendemos a manipular essa força em nosso interior, fazendo-a acordar de seu sono no fosso da terra, é o momento de aprendermos com ela em um processo de ascenção a fim de redescobrirmos o paraíso perdido. Este trabalho consiste em erguê-la do mūlādhāra-cakra aos cakras superiores através de um sistemático programa de treinamento.
Nos dias de Aleister Crowley (1875-1947) muito pouco material sobre o tema cakras havia sido traduzido do sânscrito para o inglês. Fora as especulações teosóficas, pouquíssimos ocultistas no Ocidente produziram material de peso realmente relevante. Por anos a maior fonte de pesquisas sobre os cakras utilizada pelos ocultistas da Tradição Ocidental foi o livro Os Chakras de W.C. Leadbeater (1854-1934), considerado um grande clarividente. No entanto, seu livro tem muito pouco ou quase nada a oferecer quando comparado aos próprios śāstras do tantrismo ou obras de mestres tântricos de calibre como Swāmi Satyānanda Saraswatī, fundador da Bihar School of Yoga, a organização mais tradiciol da Índia em ensino superior de Yoga e Tantra.
Por volta de 1920, o autor mais celebrado sobre Tantra no Ocidente foi Sir John Woodroffe (1865-1936). Ele foi o responsável por apresentar ao Ocidente, através de inúmeras traduções e material próprio o profundo, vasto e rico oceano de conhecimento contido nos tantras, principalmente a Tradição Kaula e suas práticas obscuras de despertar da kuṇḍalinī-śakti e a manipulação dos cakras. Mas por incrível que pareça, Crowley parece ter dado pouca atenção à obra de Woodroffe, seja por despeito ou falta de conhecimento.
Mas existe um problema ao tentar estabelecer uma equivalência entre a doutrina dos cakras contida nos tantras e a Árvore da Vida. Inúmeras interpretações equivocadas foram difundidas amplamente pela Sociedade Teosófica e a Ordem Hermética da Aurora Dourada, estabelecendo um desserviço a Tradição Esotérica Ocidental. Um exame acurado sobre as teorias estabelecidas por essas organizações revela verdadeiras anomalias e uma falta de compreensão absurda sobre os cakras.
Nos dias de hoje existe muito material a disposição, no entanto, a grande maioria dos livros escritos no Ocidente sobre o tema cakras ainda continua perpetuando as desinformações disseminadas por essas duas organizações. Por outro lado, o Oriente vem produzindo material seguro nessa área e as escrituras que nos dias de Crowley quase eram impossíveis de serem encontradas, agora abundam em traduções, o que nos permite ter um vislumbre mais amplo do assunto. Portanto, eu sempre aconselho aos meus alunos da A∴A∴ a procurarem a fonte original desses estudos, ou seja, os śāstras do tantrismo.
Ao elaborar o sistema de iniciação da A∴A∴, Aleister Crowley se debruçou amplamente sobre o Yoga, produzindo pérolas do misticismo thelêmico nas instruções da Ordem. No entanto, parece que ele deu pouca atenção à doutrina dos cakras, deixando a cargo da Ordo Templi Orientis, O.T.O., a produção do material necessário à instrução dos membros. Os primeiros Graus da O.T.O. operam enfaticamente com os ṣaṭ-cakras, mas infelismente até os dias de hoje estamos a espera que a Ordem nos apresente instruções precisas sobre como manipular e direcionar as energias dos cakras. Até lá, ofereço esse pequeno opúsculo de meditação a comunidade de thelemitas do Brasil.
Para escrever esse livro eu me baseei amplamente nos escritos de Swāmi Satyānanda Saraswatī e no material da Bihar School of Yoga.
Número de páginas | 281 |
Edição | 1 (2016) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Couche 150g |
Idioma | Português |
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