O livro é de um publicitário bastante criativo, que trata com muita leveza a síndrome do TDAH - enfrentada pelo autor durante toda a vida - só descobrindo o problema aos 64 anos, através da esposa. São crônicas, poesias e reflexões. O autor, quando criança, enfrentou bullying por ter uma inteligência acima da média dos meninos do interior onde morava e aprendeu a tirar proveito até de pedradas: corria e chegava mais rápido na escola. A mãe, professora, o alfabetizou muito cedo. E com ela aprendeu que a floresta oferece uma vasta farmácia para enfrentar certas doenças que afligem a população que vive no campo e na periferia das grandes cidades.
O autor trata os dramas da vida, como a perda de familiares, de forma consoladora. Tanto as crônicas como os poemas, revelam a percepção de quem sabe ouvir e avaliar as fatalidades. Na crônica “Dedo em riste”, foi testemunha involuntária de um desentendimento entre um casal, dentro de um carro, parado ao lado do seu. E por ter sido um ouvinte indesejado, ganhou um gesto obsceno. O publicitário revela que o uso de expressões bem paraense, como “boia”, pode causar ruido na comunicação.
Com muito humor o autor conta a inusitada situação que viveu como marqueteiro, diante de um político que, antes mesmo da campanha, já planejava trair o seu companheiro de chapa. Seus poemas são reveladores de uma alma em sintonia com o universo e estão inundados de imagens que mostram um observador atento ao meio amazônico, como nos versos do “cidadão errante no tempo” e que a “cada olhar mal interpretado servirá de tese”.
Trata de brigues palhaços e cabanos e dos sonhos que ainda persistem. Indaga: “do que você tem medo?” Para em seguida afirmar: “somos anjos azuis” (...) “nestes tempos de escuridão e caos”. E termina afirmando que “as palavras não estão mortas” e que “elas viverão sempre no coração/de quem leu e adora a vida”.
Um livro instigante e envolvente, que faz a gente perder a noção do tempo e deixa um gosto de quero mais.
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