Impactado – é como fiquei ao primeiro contato com os poemas do autor. Posso dizer que, por alguns momentos, imaginei como se sentiram os leitores, críticos e livreiros quando se depararam com obras como “1984” e “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, na primeira metade do século XX.
Circunspeto – foi como permaneci durante todo o trabalho de leitura-hipnose dos textos de Célio Lima, dentro do emaranhado labirinto deste poeta-filósofo sem “papas” na língua e sem câimbra nos dedos. E, entre embevecido e estático, eu – que sou um homem de poucas leituras – percebi nunca ter lido nada igual nos últimos anos. Logo eu, um neófobo por (de)formação, às voltas com um discurso poético incisivo e despudorado que me leva, como num passe de mágica, a vários lugares sensitivos.
Como li muito pouco sobre cada um desses aí, me vi transportado ora a Ferreira Gullar ou Wally Salomão; ora aos concretistas Augusto e Haroldo de Campos ou até mesmo Paulo Leminski; ora Zé Limeira e Arnaldo Tobias... E, guardando as devidas proporções, é como se estivesse ouvindo Tom Zé e Mutantes, Arrigo Barnabé ou o grande Caetano Veloso, em “Outras palavras”... Uma insurgente verborragia poética em meio a uma onírica euforia.
Sim, porque é esse “coquetel” que o autor nos serve: uma salada acrídoce de palavras, meias palavras, palavras-e-meias, neologismos, palavras-chave, palavras-número, jargões neolatinos, multilíngües, linguagem cibernética e muita, muita criatividade; dessas de tirar o fôlego, tirar o chapéu, de tirar onda... Tudo isso subvertendo a métrica, a rima, a gramática, a lógica(...) Célio inundou a imutável Bizarros, dos anos 2000, com sua oralidade visceral orando para Marias que não são santas, falando o que a maioria não tem coragem em diversos recitais do agreste ao litoral. O Poeta Matuto Marginal, como ele bem diria, plagicamente, combinatoriamente arregaçou a gramática e criou a sua própria forma de dizer versos em papel, e assim vem pichando as linhas/muros.
O livro torna-se uma feijoada literária ainda mais complexa ao ser gestado entre 2016 e 2020 – em meio a novíssima pandemia que reduziu a praga humana a praga política. Que o leitor deleite-se e seja atingido no coração pela bala da palavra – verso soprada pelos ventos agrestes(...) Por fim, refeito do impacto que a leitura do livro produz em nós, estou quase convencido de que tudo serve de alimento para a bulimia insana da poesia, seja ela formal e acadêmica ou transgressora e porra-louca. E que o sentimento de mundo cabe nas mãos de Célio Lima, esse passageiro do futuro; e cabe, sim, na poesia urbana desse matuto cibernético. Dando os trâmites por findos, senhoras e senhores, bom apetite!
(Carlos Lima/D. Everson)
ISBN | 978-65-001-1339-6 |
Número de páginas | 69 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 90g |
Idioma | Português |
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