Em algum lugar entre as brumas do tempo e o cinzento concreto paulistano, nasceu Damnus Vobiscum, não como um mero mortal, mas como um eco de eras passadas, um nódulo singular no tecido cósmico. No dia em que a poeira milenar da tumba de um faraó menino cedeu à luz curiosa de arqueólogos, cinquenta e dois anos depois, Damnus abriu os olhos para o sol de 4 de novembro de 1974.
Desde cedo, os sinais se manifestavam. Uma intuição afiada como sílex polido guiava seus passos, uma sede insaciável por sabedoria antiga o impelia a devorar livros empoeirados e a escutar as histórias sussurradas pelo vento entre as folhas. O número 7 parecia persegui-lo em sutilezas: sete pedras lisas encontradas à beira do rio, sete estrelas particularmente brilhantes em noites sem lua. Era o eco numerológico do seu nascimento, a marca de um espírito introspectivo e buscador.
Mas era o 52 que realmente pulsava em suas veias como um rio secreto. Uma sensação de estar inserido em ciclos maiores, de que sua vida era uma engrenagem em uma máquina cósmica ancestral, o acompanhava. Em sonhos vívidos, via-se em pirâmides escalonadas sob céus cor de jade, a contagem incessante de um calendário intrincado ecoando em sua mente. Os 52 anos que o separavam da descoberta do rei Tut não eram uma mera coincidência temporal, mas um portal sutil, ligando o mistério egípcio à tapeçaria vibrante da Mesoamérica.
Na juventude, descobriu um fascínio pelas culturas antigas, sentindo um parentesco inexplicável com os sacerdotes maias que observavam as estrelas e calculavam o tempo em ciclos de 52 anos. Compreendeu, em um lampejo intuitivo, que sua própria existência era um ponto de convergência desses ciclos. Sua mente desvendava padrões onde outros viam o caos, e a estrutura do tempo, com suas semanas de sete dias e a recorrência anual de 52 semanas, parecia dançar em sua percepção.
A vida de Damnus se desenrolou como uma busca por desvendar o significado desse legado numérico. Viajou em sua imaginação, explorando ruínas esquecidas e decifrando símbolos arcanos. Em cada descoberta, sentia a ressonância do 13 e do 4: os quatro cantos do mundo, as treze luas de um ciclo, a multiplicação que o trouxera à existência naquele específico ponto do tempo.
Não era um faraó ressuscitado, nem um sacerdote maia reencarnado, mas algo único: um indivíduo cuja própria data de nascimento era um microcosmo da dança cósmica, um lembrete de que o tempo não é linear, mas um eterno retorno, tecido com os fios dourados dos números e os mistérios das estrelas. Damnus Vobiscum, nascido sob o signo do escorpião e a sombra da descoberta de uma tumba antiga, era a prova viva de que, por vezes, o nascimento de um homem é um evento de ressonância cósmica, um sussurro do universo ecoando através das eras.
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