Prefácio
Das perguntas que podem servir para melhor conhecer a Lexicografia, a primeira é, naturalmente, o que vem a ser o dicionário. Exatamente na mudança da minha compreensão no que concerne a esse argumento é que minha vida como linguista alcançou pleno significado.
Tal pergunta tivesse-me sido feita outrora, quando eu ainda era jovem, é bem provável que a tivesse respondido com uma definição precisa e retilínea, movida pela certeza da existência de uma paráfrase perfeita, capaz de traduzir, no espaço medido, a “verdade por definição”, como propôs, certa feita, Robert Martin. Todavia, ao longo da vida, sinto que arrefeceu-se em mim o ímpeto por definir um objeto apenas nos domínios da ciência. Como as palavras, os mais velhos tornam-se, não raro, mais polissêmicos. Não conseguem ancorar suas reflexões nos sentidos de um campo determinado, preferem cruzar campos, caminhar pelos trajetos sinuosos do pensamento analógico e figurado.
Eis que, assim, começo a delinear o conceito de dicionário, referência maior do livro A funcionalidade do exemplo lexicográfico em dicionário escolar para o Ensino Médio, do autor Joaquim Cardoso da Silveira Neto, que muito me honra com o convite para prefaciar sua obra, fruto de ampla pesquisa de mestrado, que, juntos, orientadora e orientando, tecemos, fio a fio, nos idos de 2013 e 2014, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal de Sergipe.
Permitam-me, autor e leitores, que me atenha primeiramente à referência da obra, para depois lançar luzes ao seu foco temático: o exemplo lexicográfico.
Um dicionário geral, além de descrever e inventariar o vocabulário de uma língua, guarda, dentro de si, a senda montanhosa e retorcida dos sentidos das palavras, institucionalizados pelo uso de falantes com matizes culturais diversos, situados em tempos e contextos sócio-históricos vários. Ecoam, do dicionário, as vozes de nossos antepassados que, embora envelhecidas pela ação do tempo, nele permanecem, sob o rótulo de arcaísmos, ou simplesmente com marcas de desuso. Entretanto, ali se encontram a clamar, por ato de resistência, seu lugar no tesouro lexical da língua.
Dele, ressoam também jargões, regionalismos, uma variedade importante de termos técnicos e científicos, chulismos, gírias, estrangeirismos, dentre outras marcas de uso que variam de lexicógrafo para lexicógrafo. De todo modo, as palavras, antigas ou novas, não se encontram estáticas no dicionário. Ressemantizam-se no cotidiano dos discursos e, paulatinamente, reavivam-se no dicionário.
O dicionário é, lato sensu, uma obra aberta.
ISBN | 978-85-67741-07-9 |
Número de páginas | 194 |
Edição | 1 (2019) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Couche 90g |
Idioma | Português |
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