A escravidão é uma das práticas humanas mais antigas, sendo desde os primórdios das civilizações a força motriz de desenvolvimento para povos e Impérios, constituindo-se em ação condenatória aos derrotados em batalhas e invasões, que se viam forçados a trabalharem para a força dominante, ou ainda por razão de dívidas. Com o advento do período das chamadas “Grandes Navegações”, que resultou na chegada do europeu às Américas, o uso do trabalho cativo foi fundamental para o progresso das novas colônias (e das metrópoles), especialmente do Brasil, que por mais de duzentos anos serviu apenas para exploração de matérias primas para o reino de Portugal e teve como base inicial, a mão de obra escrava dos nativos e depois, do africano, arrancados de sua terra natal trazidos à força para a América Portuguesa.
O poder da Igreja e a “necessidade” de salvação da alma do negro, mergulhada no paganismo africano foi a justificativa para o cativeiro, que “cobrava” na forma de serviços forçados, o “favor” da evangelização. A percepção de que essa prática poderia ser convertida em algo bem mais lucrativo, além do trabalho para o clero, foi o ponto de partida da transição para o escravismo, sempre com a legitimação eclesiástica.
Veremos nessas páginas, como se deu a relação entre senhores e cativos e como os escravizados se reuniam para formar Laços familiares e de convivência, para sobreviver (e até combater) o brutal sistema, que foi ruindo gradativamente, com início em 1831, com a assinatura da inoperante lei de proibição do tráfico negreiro, que não foi cumprida e ainda gerou o conhecido termo popular “Para inglês ver” e que não se completou, com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, pois não houve qualquer planejamento para a os que haviam sido escravizados e seus descendentes, como indenizações, locais para suas habitações entre outras necessidades prioritárias, pois até mesmo os postos de trabalho foram entregues aos imigrantes, que não paravam de chegar, não só para ocuparem as vagas que fora dos negros, como também, para povoar áreas, sobretudo, nas províncias do sul, na frustrada tentativa de “branqueamento” do Brasil, mas que deu um “ar europeu” aquela região.
Veremos também que a Lei Áurea, não foi fruto da benevolência das elites e sim uma conquista paulatina dos negros e do movimento abolicionistas, já que não havia mais condições de manutenção do antigo regime, e foi nesse caldeirão efervescente, que deu-se no ano seguinte a Abolição, o golpe militar (sem nenhum apoio popular), que derrubou (e expulsou do país) o imperador do Brasil e toda sua família, evento que entrou para a história recente do país, como “Proclamação da República”, ocorrida no dia 15 de novembro de 1889, liderada pelo monarquista (e amigo pessoal do imperador banido), Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, que viria a ser o primeiro presidente do Brasil.
Vamos apontar aqui, o período de transição entre o regime monárquico e as transformações que a cidade do Rio de Janeiro, a maior e mais importante do país na época, sofreu neste período, em que a república brasileira dava seus passos iniciais em busca da construção (ou forja) de sua identidade, espelhada na “Belle Époque” parisiense que visava arborizar a cidade, erradicar doenças e “se livrar” de sua população pobre do centro da cidade, oriundas dos antigos escravizados e seus descendentes, que se somaram com os que ali já viviam, além de imigrantes em busca de melhores condições de vida. E será essa parcela da população, que terá uma atenção à parte, pois analisaremos quem eram, como viviam e como combateram as ações que não consideravam justas, tendo como elemento central de resistência a “Pequena África”, reduto de antigos escravizados oriundos da Bahia, que naquele canto da Praça Onze, construíram seus focos de resistência social e cultural, reunindo “capoeiras”, “vadios”, “malandros”, entre outras categorias das chamadas “classes perigosas”, que viu ali nascer o carnaval e as escolas de samba, uma das maiores expressões culturais do Brasil.
Na segunda parte deste livro, veremos como os negros eram vistos nos jornais, primeiro como uma simples mercadoria, que podia ser vendida, alugada, emprestada, a bel prazer de seus donos, depois, no pós abolição, novos crimes surgem, tais quais, “vadiagem”, “feitiçaria”, “batuques”, “macumba”, entre outros, oriundos das classes menos favorecidas, que deveriam ser controladas e vigiadas, saindo assim, dos classificados de compra e venda, da época do cativeiro, para as páginas policiais da República.
ISBN | 9786599378249 |
Número de páginas | 101 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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