APRESENTAÇÃO
O corpo, muitas vezes tratado como uma máquina, foi se transformando pouco a pouco em um corpo pleno em si mesmo, de desejo, de história e de linguagem, como um caminho por meio do qual, com uma ação apropriada, podem ser conseguidos efeitos sobre a enfermidade e os padecimentos.
Desde o século passado iniciou-se a concepção de um novo modo de perceber o corpo. Entre os fatores que contribuíram para este surgimento, contabilizam-se as concepções energéticas, a ideia de evolução, a aparição do conceito de inconsciente, os aportes do Dr. Edward Bach e os da medicina psicossomática. Todos estes elementos deram lugar à formação de uma série de propostas confluentes para pensar o corpo como um território de onde o indivíduo expressa seus afetos sufocados, como energia, como memória que registra as vicissitudes de uma vida, como história que narra os sucessos e fracassos, como desejo que expressa as fixações libidinais e como texto que se organiza pela linguagem, no dizer de Eduardo H. Grecco.
Na segunda metade do século passado, o Dr. Weizsaecker e o Dr. Franz Alexsander propuseram o termo Medicina Psicossomática, unindo o corpo com a mente como dando prioridade à influência que esta última tem sobre o físico.
O corpo e mente não são coisas diferentes. Quando uma doença se revela, todo o indivíduo fica doente. A relação psicossomática, desnuda esta verdade. Não existe separação entre o que acontece na mente e o que ocorre no organismo. Ao tratar somente o corpo, omite-se a origem da dor que se manifesta em determinada parte do corpo.
A unidade total do corpo e da mente se reflete no estado físico de bem-estar ou de doença. Os conflitos internos, causados por situações adversas, transtornam facilmente o equilíbrio e proporcionam sentimentos de medo e de incertezas.
A doença proporciona uma oportunidade de conexão com partes com as quais o contato foi perdido.
A transmissão de mensagens da mente ao organismo realiza-se através de um complexo sistema em que participam o fluxo sanguíneo, o sistema nervoso, numerosos hormônios segregados pelas glândulas endócrinas. Processo de extraordinária complexidade, regulado pela glândula pituitária e o hipotálamo, este responsável pela temperatura corporal, ritmo cardíaco, funcionamentos do nervo simpático e do parassimpático. Serve de ligação entre a atividade psicológica e emocional e o funcionamento corporal, através de numerosas fibras nervosas de todo o cérebro, conectadas com ele. As reações negativas, a ira, a amargura, o estresse, a solidão ou um estado de aflição intenso, podem anular o sistema imunitário ao ativar uma excessiva produção de hormônios, deixando o indivíduo mais vulnerável à doença.
Na atualidade, cada vez mais adeptos, relacionam qualquer sentimento (amargura, rancor, culpa, ansiedade, inveja, etc.) como produtores de enfermidades de diversas gravidades, nos diferentes órgãos.
As preocupações e o estresse têm originado doenças graves como hipertensão, úlcera, problemas cardíacos, depressões nervosas e câncer. Também originaram “novas enfermidades”, tão importantes como o câncer, doenças chamadas autoimunes: esclerose em placa, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide. Sabe-se que ansiedade e nervosismo podem dar lugar a um transtorno estomacal, que a depressão e a infelicidade afetam o organismo, a ponto de sentir baixa energia, apatia, falta de apetite ou ingesta demasiada, ombros e músculos doloridos, etc. Em compensação a alegria e a felicidade aumentam a energia, a vitalidade e a imunidade aos resfriados ou à outra infecção qualquer, pois o organismo está forte e oferece resistência.
As mensagens que a mente, de modo inconsciente, envia ao corpo, são fatores determinantes do estado de saúde. Quando, continuamente, há ruminações de fracasso, desespero, raiva, negativismo, medos, acompanhados de desqualificação e fingimento de que tudo está bem, em nível consciente, será o corpo que reacionará, debilitando o sistema de defesa (sistema imunológico) organizando enfermidade física. Se não for dada a devida atenção aos sentimentos, um órgão irá chorar.
O corpo é veículo de manifestações ou realizações de todos os processos e mudanças que se produzem na consciência, reflete os acontecimentos e as experiências vividas, de modo que o indivíduo é a soma final de tudo quanto lhe ocorre. O corpo retém tudo o que experimentou, todos os fatos, emoções, situações estressantes e dores estão registrados no sistema corporal. Um bom terapeuta pode ler a vida inteira de um indivíduo, observando a compleição e a forma do corpo, as zonas de tensão e as doenças sofridas. O corpo se converte numa espécie de autobiografia andante, uma acumulação de músculos que refletem as experiências da pessoa, as feridas, as preocupações, ansiedades e inquietudes. Para cada efeito manifestado no corpo, existe uma pauta de pensamento ou estado emocional que o precedeu. Sentimentos não-elaborados provocam enfermidades diversas: no coração, no fígado, nos rins, no baço, no estômago, etc. Cada parte do corpo tem sua própria e única função característica, que corresponde a um aspecto da personalidade. Um desequilíbrio na consciência se manifestará no corpo em forma de sintoma. Quando há compreensão da diferença entre enfermidade e sintoma, este já não será considerado como um inimigo, cujo objetivo maior seja a sua destruição, mas será um aliado que pode auxiliar no encontro do que falta, para sim, vencer a doença. O sintoma pode dizer o que falta ao indivíduo, mas, para entendê-lo, é necessário aprender sua linguagem. Esta linguagem sempre existiu e é preciso reaprendê-la. A linguagem sabe da relação corpo e mente e, se isso for alcançado, pode ser ouvido e entendido o que dizem os sintomas. Os sintomas dizem a verdade muito cruamente, por isso, não é de se estranhar que esta linguagem seja esquecida e uma forma de se enganar. Prestando atenção nos sintomas e estabelecendo uma comunicação com eles, serão guias infalíveis no caminho da verdadeira cura.
Há diferença entre combater a enfermidade e transmutá-la. A cura se dará desde um sintoma derrotado. Enfermidade e cura são conceitos que pertencem exclusivamente à consciência e não podem aplicar-se ao corpo, que só reflete estados de consciência.
Enfermidades psicossomáticas devem ser aplicadas a todas as enfermidades em geral, inclusive às infecciosas, pois, apesar de serem produzidas por agentes externos (vírus, bactérias, etc.), a porta de entrada no organismo depende do sistema imunológico ou defensivo do ser humano e este tem relação íntima com a mente e as emoções. Ao isolar o efeito (enfermidade corporal) como desconectado da unidade “ser humano”, nega-se também a causa (sentimentos, pensamentos e atitudes ocultos à consciência) e esta se produziria em outro momento, e possivelmente em outro lugar do corpo, fazendo crer que se trata de outra enfermidade.
As essências florais do Dr. Bach são o seu legado sobre a origem das doenças e, para ele, a base de toda a enfermidade está na desarmonia entre os aspectos espirituais e mentais do ser humano. Bach afirma que o que se conhece como doença é o estágio final de um distúrbio muito mais profundo e, para assegurar um efetivo tratamento é obvio que cuidar apenas do resultado final não será um procedimento de todo eficaz, a menos que a causa fundamental também seja suprimida.
Para ele, as doenças reais e básicas do homem são certos defeitos como o orgulho, a crueldade, o ódio, o egoísmo, a ignorância, a instabilidade e a ambição. A continuidade desses defeitos e a persistência deles é o que ocasiona no corpo os efeitos prejudiciais, os quais conhecemos como enfermidades e provocarão um conflito com reflexos no corpo físico, produzindo um tipo específico de enfermidade.
“Qualquer tipo de doença, conduz à descoberta da falta que está por trás de tudo quanto nos aflige. Assim, o orgulho, que é arrogância e rigidez mental, despertará doenças que ocasionarão a rigidez e ancilose do corpo. A dor é o resultado da crueldade. O ódio e o temperamento violento e incontrolável, provocam perturbações mentais e os estados de histeria. O egoísmo em excesso, oportuniza as doenças decorrentes da introspecção como a neurose. A ignorância, recusa de ver a verdade quando a oportunidade é dada, terá como consequência a miopia e outras deficiências visuais e auditivas. A instabilidade de mente, acarreta disfunções que afetam os movimentos e a coordenação motora. A ambição e a vontade de dominar os outros, leva a quem delas sofre, a ser escravo do próprio corpo, com os desejos e a ambição refreada pela enfermidade.
A parte afetada do corpo não é obra do acaso, mas obedece à lei de causa e efeito e pode servir de guia para nos ajudar. Por exemplo, o coração, fonte de vida e, portanto do amor, é atacado, especialmente quando o lado amoroso para com a humanidade não é desenvolvido ou é utilizado de modo errado. A mão lesada denota falha ou erro na ação. O cérebro, sendo o centro do controle do corpo, se afetado, indica uma falta de controle na personalidade. Se o orgulho nos assaltar, tentemos compreender que nossas personalidades não significam coisa alguma em si mesmas e, reconhecendo nossa fragilidade com máxima humildade. Se a crueldade e o ódio nos atacarem, impedindo-nos de avançar em nosso caminho, lembremo-nos que a maior conquista, será através do amor e da bondade. A cura do egoísmo se dará quando dirigirmos para fora, para os outros, o carinho e a atenção que devotamos a nós próprios. A instabilidade será erradicada pelo desenvolvimento da autodeterminação, em vez de ficarmos detidos na hesitação e na dúvida. Para acabar com a ignorância é preciso não ter medo da experiência e, com mente, olhos e ouvidos bem abertos e atentos, aproveitar todo o conhecimento que possamos adquirir.
È necessário manter-se flexível no pensamento, para que ideias pré-concebidas não nos privem a oportunidade de adquirir novos e mais amplos conhecimentos. De modo semelhante, podemos procurar outras falhas do nosso temperamento e eliminá-las por meio do aperfeiçoamento da virtude oposta, removendo de nossa natureza a causa do conflito, que é a causa fundamental da doença.
O corpo físico, morada em que habitamos, serve para podermos
Número de páginas | 434 |
Edição | 2 (2020) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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