Nos últimos tempos, decisores políticos, docentes e outros atores educativos, têm-se confrontado com situações nunca antes vivenciadas em Educação. Destas emergem reflexões em torno de diferentes temáticas, nomeadamente sobre oportunidades e fragilidades encontradas no uso da tecnologia. Vários estudos e experiências têm sido realizados, tal como é possível confirmar nos diferentes capítulos desta obra intitulada Tecnologia e Educação: Estudos e experiências nacionais e internacionais.
A pandemia da COVID-19 provocou inúmeros constrangimentos em vários sectores da sociedade, em particular no contexto educativo. Perante um confinamento repentino, professores e alunos se viram confrontados com uma realidade nunca antes vivida e para a qual a tecnologia se tornou uma excelente aliada. Se por um lado nem todos se sentiam capacitados para uma educação online, por outro, todos tinham um objetivo comum: continuar a proporcionar aprendizagens aos seus alunos. Deste modo, foram várias as iniciativas, promovidas por diferentes instituições (educativas e governamentais), que, numa primeira fase, possibilitaram o ensino remoto emergencial. Esta modalidade, muito distante da verdadeira educação digital, foi a estratégia encontrada para dar continuidade às aulas presenciais, nos diferentes cursos e níveis de ensino.
Apesar de detetadas vulnerabilidades foram, também, muitas as potencialidades encontradas perante um cenário educativo até ao momento inexistente. Certo é que a educação nunca mais foi o que era. Antes da pandemia, os professores tiveram oportunidade de aprender a usar a tecnologia, mas com aplicação em sala de aula, na maioria das vezes, pontual, justificada pela falta de significado no seu uso. Muitos docentes ainda não entendiam o uso da tecnologia digital como uma mais-valia para as suas práticas pedagógicas.
Passados dois anos de pandemia, e constatadas as maiores fragilidades e impactos negativos ocorridos, cabe a todos os agentes educativos desenvolver esforços para superar os desafios encontrados, desenvolvendo, simultaneamente, estratégias de recuperação de aprendizagens não realizadas, visando a diminuição da exclusão, o desenvolvimento de competências socioemocionais, de empatia e de atenção à saúde mental dos demais. Estas são preocupações de entidades políticas de educação e partilhadas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF –, num trabalho conjunto de análise das lacunas de aprendizagem existentes, causadas pela pandemia da COVID-19.
Torna-se necessário realizar um maior investimento na capacitação digital dos docentes como meio de desenvolvimento de competências que possibilitem integrar a tecnologia em sala de aula de forma estruturante, promovendo a inclusão digital dos seus alunos.
Os vários estudos e experiências, nacionais e internacionais efetuados em torno deste tema, constituem uma mais-valia para uma educação digital.
José Renato Silva Serejo e Ronaldo Silva Júnior, no primeiro capítulo, apresentam algumas questões norteadoras sobre o trabalho docente quanto à utilização da tecnologia e os desafios associados à formação docente nesta área. Os autores destacam, ainda, a importância do papel da sociologia na identificação das determinações sociais, políticas e culturais que condicionam essa definição, tanto no plano social mais amplo como no âmbito do próprio espaço escolar.
A falta de preparação dos docentes e dos gestores do ensino superior, perante os lockdowns originados pela pandemia da COVID-19, é abordada por Miriam Brum Arguelho, Maria Cristina Lima Paniago, Gustavo Henrique da Cunha Moura e Cristina Devecchi, no capítulo seguinte. Estes autores referem, através dos resultados obtidos partindo de um estudo internacional – envolvendo universidades do Brasil, Canadá e Reino Unido – que as práticas pedagógicas dos docentes deste nível de ensino continuam antiquadas, enraizadas na noção de que o professor é o detentor do conhecimento e o aluno assume um papel passivo no processo de ensino-aprendizagem, não acompanhando as abordagens inovadoras que a tecnologia pode trazer para os contextos de ensino superior.
Os capítulos três e quatro referem estudos nacionais, realizados por Cynthia Regina Leal Sousa, e Edileide Santos Silva; e Nilton Cesar Pimenta Júnior e Ronaldo Silva Júnior, com o escopo de dar a conhecer algumas das contribuições do ensino remoto, em tempos de pandemia de COVID-19, às escolas estaduais do município de Araguaína Tocantins e da rede Municipal de Ensino da cidade de Pinheiro – MA. O primeiro estudo procura compreender de que forma os Objetos de Aprendizagem (OA) contribuíram para o ensino remoto, tendo em conta o desejo de entender a sua importância e o seu papel no processo de formação. As autoras concluíram que os OA trouxeram contribuições tanto ao aprendizado dos estudantes quanto às práticas pedagógicas dos professores e que a sua utilização permanecerá para além da situação pandémica, dadas as vantagens encontradas. O segundo estudo tem um cunho bibliográfico, como base nos dados retirados das bases Google Acadêmico, Scielo e Medline. Teve como escopo analisar a relevância da mediação do ensino com recurso à tecnologia, assim como da qualificação docente para o desenvolvimento da sua prática pedagógica, como forma de favorecer o processo de formação intelectual, social, e profissional dos seus educandos.
Carlos Ramos Fuentes, no capítulo cinco, reporta-se a estudos realizados na Ásia Oriental, em particular no Japão, sobre o desenvolvimento de ferramentas de suporte para potenciar a aquisição de kanji japoneses através da utilização de radicais fonéticos e bases de dados. O autor refere que estes estudos experimentaram um enorme boom nas décadas de 2000 e 2010, perante a difusão dos média (mangá, anime, videogames, K-Pop, J-Pop, dramas) e a democratização do transporte aéreo. Conclui que é fundamental que os estudantes tenham acesso a ferramentas online e à utilização de bases de dados para obterem informação sobre radicais fonéticos, potenciando a aquisição de kanji.
Deysi Pereira da Silva e Edileide Santos Lima, no capítulo seis, abordam o uso do Whatsapp como ferramenta direcionada ao ensino-aprendizagem, em tempos de pandemia, em uma escola da rede pública municipal de ensino da cidade de Axixá do Tocantins, e o modo como a tecnologia influenciou os processos educativos, quando associada ao uso crescente dos dispositivos móveis, nomeadamente nos processos de comunicação.
A situação de como a tecnologia assistida pode contribuir para a inserção da audiodescrição de conteúdos escolares, numa perspectiva de educação inclusiva, é abordada, no capítulo seguinte, por Ana Maria Lima Cruz e Ronaldo Silva Júnior. O estudo reuniu um grupo de professores, do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Maranhão (COLUN/UFMA), enquanto mediadores do processo de ensino-aprendizagem dos alunos com deficiência visual.
Nivaldo Pedro de Oliveira, no capítulo oito, se refere às implicações da gestão escolar democrática na coparticipação, em particular na Escola Municipal Alberto Pinheiro, em São Luís. O presente estudo foca os princípios que orientam esta gestão, compreendida como um exemplo ideal de gestão para as escolas, bem como sua integração com a comunidade, abordando concepções que enfatizam a importância de se priorizar uma consistente participação da comunidade escolar nos aspectos atinentes à gestão administrativa, pedagógica e financeira das escolas.
No capítulo nove, Márcio Henrique Baima Gomes e Ronaldo Silva Júnior nos trazem uma análise descritiva e exploratória, realizada ao ensino de História através do uso da plataforma digital Google Forms, no período de pandemia de COVID-19, com os alunos da Educação de Jovens e Adultos do C.E Cidade Operária I. Os autores consideraram que o uso desta tecnologia teve um forte impacto e se constituiu como uma das principais estratégias de manutenção da educação escolar no período de isolamento social.
Nos capítulos dez e onze, são apresentados estudos realizados com alunos de comportamentos de altas habilidades ou sobredotação e com transtornos do neurodesenvolvimento. No primeiro estudo, Eliane de Fátima Alves de Morais Fraulob, Aldenor Batista da Silva Junior e Cynthia Garcia Oliveira, apresentam um projeto-piloto para identificação e avaliação de estudantes com indicadores de comportamentos de altas habilidades ou sobredotação durante o período de suspensão de aulas presenciais. Este projeto, decorrido em três etapas, teve a parceria da Google Inc. – Google for Education – com o objetivo de ampliar, ainda mais, o uso de ferramentas como o Gmail, Hangouts, Google Agenda e Google Drive, entre outros, de forma a garantir a continuidade de seus estudos, a partir do acesso a espaços destinados ao desenvolvimento de sua aprendizagem. Por sua vez, Débora Ananias de Araújo e Edileide Santos Lima, no capítulo onze, fazem uma revisão sistemática de literatura, com o propósito de corporificar pesquisas que descrevessem e avaliassem a aplicação de tecnologias educacionais no letramento de alunos com transtornos do neurodesenvolvimento, caracterizados por dificuldades no desenvolvimento neurológico e no aprendizado.
Para finalizar, retomando o contexto da gestão escolar, Marilda Faustino de Andrade Ribeiro, aborda o poder da educação na visão do respeito e valorização das diferenças, destacando a educação especial, apontando os desafios com que o gestor escolar se confronta na gestão democrática, tendo em conta a diversidade do ambiente escolar. A autora refere a importância do entendimento da educação mais acessível e inclusiva, tal como da tecnologia na gestão do trabalho escolar durante a pandemia da COVID-19.
Ao longo dos doze capítulos que constituem este livro, o leitor toma consciência da importância que a tecnologia teve como meio de suporte ao ensino remoto, em tempos de pandemia de COVID-19, como os diferentes meios e recursos permitiram uma educação inclusiva, procurando minimizar as diferenças de igualdade de oportunidades de acesso e de aprendizagem, eliminando algumas barreiras comunicacionais. Para além destas questões, e face às constantes mudanças, diferentes autores, a partir de estudos realizados, destacam a necessidade de formação docente na área das tecnologias e, assim, conseguirem dar resposta aos desafios com que se confrontam.
Não posso terminar sem agradecer aos organizadores deste livro o convite, que muito me honrou, para o prefaciar.
Idalina Lourido Santos
Investigadora no Laboratório de Tecnologia Educativa (LabTE), Universidade de Coimbra, Portugal. Formadora do Curso de Docência Digital em Rede, Universidade Aberta, Portugal.
ISBN | 9786587634197 |
Número de páginas | 470 |
Edição | 1 (2023) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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