Chuvas, distâncias e cansaços. Além da doçura da saudade, das tolas declarações no cálido sufoco do êxtase das lembranças, o que do amor cai nas palavras é um negro chorume do lixo enterrado de estúpidas lamentações. A asquerosa matéria orgânica das lascas de fígado e cérebro do bom senso que o egoísmo nos mutila e se apodrecem; borracha velha do ordinário coração que queima em fumaça acre. Versos que nos quebra a manhã como impertinentes telemarketings, gordura que nos entope a pia, que enfim recobre toda a casa; a terrível precariedade do amante. A morte e uma conta que nunca fecha, recibos que somem, despesas que não podem mais ser declaradas, risos que descem pelo ralo, veneno que inadvertidamente nos cai na comida; uma contaminação por metais pesados. O luto é um cárcere no passado, figuras soturnas e silenciosas que só nos acompanham com os olhos; tudo reprovam. A complexa administração de leões e lesmas na caótica linha de montagem cotidiana, no que tudo ainda grita, enterra generosas colheitas. Chegar-se a um preço justo, devolver as chaves da luz para o espírito; poder-se enfim acordar de manhã e abrir a janela com alguma força nos pulmões, aspirar ao que não seja poeira são anos em iracundo gelo. Mas já corre pelo chão o tenro verde de alguns musgos, da monotonia do branco, uma terra nua se oferece com tímida graça... Amar é corajoso renascimento.
Número de páginas | 132 |
Edição | 1 (2017) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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