A Ava além do animal mais belo do mundo é também o mais indomável. Protetora ferrenha dos bichos, ela incita os cães da praça pra cima de mim, me empurra gatos órfãos, além de me aparecer com criaturas enfermas e agonizantes pra eu socorrer. Isso depois de eu falar setecentas mil vezes que esta não é a minha bandeira. Não dou conta da minha vida, vou colocar mais um infeliz nesta canoa furada? O engraçado é que ela também fica vendida. Os peludos passam desta pra melhor e nem dão bola pra ela. O Morgan mesmo vive a esnobando, quase inverteram os papéis. A Grace é o próprio gato, uma criatura impávida; acho que nunca prescindiu da palavra, guia tudo com os olhos. A sorte é que tenho que devolver muito pouco; são, da mulher, um fino pó; dói não conhecer as suas verdadeiras impressões e tudo é de fato um grande delírio. É impressionante como o embate ainda acontece, o drama de amar as duas, de entender que estou longe do que poderia agradá-las. Brinco já como um canalha, um grande déspota. Gasto horas tentando explicar o insulto de tê-las colocado nesta minha calamidade como dois pássaros numa gaiola. Vou até que o meu coração sossega, o diabo sussurra nos meus ouvidos: “deixa de ser besta, otário”. Isto porque nem ele mais aguenta... Imagina uma criatura vivente.
Número de páginas | 108 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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