Certamente torcem o nariz, os letrados, encima de obras realizadas por sites de autopublicação. Alias, é cada vez mais difícil identificar entre os nossos pares: amigos e inimigos. Como diria Samuel Johnson, “A civilidade recíproca entre autores é uma das cenas mais risíveis na vida”. Por enquanto quase ninguém ainda leu-me, e confesso que nunca li nada que tenha me surpreendido completamente. Isso é claro, por ter lido muito pouco; os que são pouco lidos então... Porém, existe uma grande vantagem em publicar por este meio: o exercício. Já que praticamente não tenho leitores tenho que me incumbir desta tarefa também. O que é algo sobre-humano. “Um escritor nunca lê sua obra... Não consegue encará-la face a face.” Julga Maurice Blanchot. “As Deusas de Negro” é um livro que escrevi nos anos 90; o vigésimo oitavo que edito; a enésima releitura de versos esquálidos que tento resgatar. É o que me resta; o tempo da espera, o meu trunfo, talvez: a perseverança. Entre os que se matam e os que se afogam no mar; o naufrágio é certo, o navio superlotado. Vou me arranjando nesta velha ilha tecendo cordas com os cabelos para uma possível jangada, ou uma forca confiável; a minha agonia solitária. Escrever é ir colhendo o próprio sangue para uma futura e necessária transfusão. O luxo mais ordinário. Um dia a civilização se calará definitivamente, retornaremos felizes à condição animal, o planeta destruído, comendo uns aos outros.
Esteja servido.
Número de páginas | 226 |
Edição | 1 (2015) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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