O livro é uma mídia morta. Como o latim ele ainda perambula no nosso dia a dia, mas mais como uma vaga lembrança. Talvez eu queira adiantar as coisas, como o povo que se aglomera sem máscara ainda com milhares de mortes nesta pandemia. No futuro talvez perguntem: qual delas? Eu me pergunto: este livro terá algum futuro? Não gosto quando as coisas se datam, nada é mais triste do que notícia velha. Mais triste se ainda nos vemos no mesmo dilema. A nossa ignorância é como a nossa impunidade. O que nos resta é mesmo queixar para o bispo. É o lugar que eu enfim coloquei o meu amigo Chico (que não é o Buarque). O Chico é esta figura eclesiástica com o dom incrível de deixar passar caravanas de tormento de um ouvido pelo outro sem se abalar. “Eu já te falei o que eu penso”, ele às vezes repete, lembrando quando, lá nos primórdios, deu o seu primeiro veredicto sobre o assunto. Eu repito, ele repete. Ou simplesmente fica calado, o que já dá no mesmo. “Tem que fazer, então faça”. “Não vale a pena, largue pra lá”. Tudo numa calma sublime como se os pós e os contras fossem irrelevantes. Como se cada grão de realidade não pesasse uma tonelada na alma. “Um dia tudo fará sentido”, vaticina. Será tarde demais, penso comigo.
Número de páginas | 110 |
Edição | 1 (2020) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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