Tudo pra mim é câncer. Depois que a minha mulher se foi, eu me sinto mais próximo da morte do que da vida. Os vivos com as suas agitações pueris e saudáveis soam sempre deselegantes, arfantes nas suas faltas de tempo, seus problemas de relacionamento, seus trabalhos insuportáveis, seus apegos com supérfluos, brinquedinhos banais... O destino definido enfim, me parece melhor um lugar seguro. O morto de mim se aventura no que, morto, ressuscita o meu imaginário. Crer em algo hoje, pouco me importa. Mesmo a certeza da morte cai em xeque. Viver talvez não passe de um delírio, o corpo não passe de um troco. Sou como o rabo partido da lagartixa. Ainda mexo, mas não estou aqui. A dor que me dói, o meu desespero está longe de mim. Talvez nem perceba o que perdeu. Faço de conta, pois pagar pra ver, como diria o Bandeira: “A minha vez passou!”...
O FINGIDOR é mais uma obra que executo solitariamente. Vai, portanto até aonde vou. E deste que vai, o quanto pode resistir a sua persistência. Saiu a custo, com pouca luz no fim do túnel, destinada talvez a uma meia dúzia, e por isso, dedicada de maneira um pouco sarcástica, porém justa “a minha amável pessoa”. Não por dedicar a mim mesmo, mas por ainda me considerar amável! A gente que casado com os anos se amolda ao outro, quando este se vai, achar quem se interesse pela comprometida fôrma é bem mais difícil. São antigas odes, a documentação de alguns eclipses, raivosas tempestades, algumas brumas... E um encantamento com os ícones, “o mais belo animal do mundo” e a princesa Sereníssima com o seu frescor. Toda delícia da mentira e a sua curta aventura... Curtam!
Número de páginas | 148 |
Edição | 2 (2013) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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