I
A obsolescência programada, baluarte da globalização e um dos principais fundamentos do mundo pós-moderno capitalista, trouxe para a sociedade planetária problemas que ela não soube e/ou não sabe resolver.
Problemas estes relacionados não somente às questões humanas, sociais e econômicas, respectivas do conteúdo ético individualista do capital, mas, também, e, sobretudo, problemas ambientais, do mundo físico, frente à valoração da mercantilização de todas as coisas, materiais e imateriais, de busca antiética pelo lucro certo, a qualquer preço, presente nessas mesmas sociedades. Nesse cenário de catástrofes humanas, sociais e ambientais, eis que surge e apresenta-se outra catástrofe: a catástrofe da escola.
Ou seja, numa era onde se sistematiza a ética do individualismo e da meritocracia como sendo, de fato, sinônimos da justificativa da exclusão, a escola se torna ideológica na medida em que é especificamente concebida pelo estado capitalista como o lugar onde os preceitos de humanização e emancipação intelectual são abortados, dinamitados, e, numa outra via, normatizado o corolário capitalista como sendo seu conteúdo ético-pedagógico.
II
A globalização, ao mesmo tempo que trouxe a possibilidade de mostrar os diferentes e/ou às diferenças culturais planetárias, nos seus diferentes povos, por outro lado, associada às políticas capitalistas de expansão de mercados consumidores, paradoxalmente potencializou o desenvolvimento do individualismo, do consumismo, do hedonismo antivirtuoso, do narcisismo, do genocídio, do xenofobismo e dos nacionalismos, levando a sociedade global para longe da capacidade de coexistir, de tolerar, de respeitar as diferenças.
Nesse sentido, a desumanização imperou como conteúdo ético capitalista em escala global, planetária, sob a insígnia de repúblicas democráticas capitalistas, comparadas à democracia Ateniense, do mundo Grego, onde aproximadamente noventa por cento dos habitantes não eram considerados cidadãos plenos e, portanto, não participavam dos rumos, das decisões da polis, por questões nacionalistas, de autoctonia, anticosmopolitas, visando a autopreservação.
À volta a esse tipo de nacionalismo xenofóbico, exacerbado e centrado em si, de “glória do eu mesmo” e de “desprestígio do outro”, por meio dessa globalização capitalista, entrou pelas veias dos diferentes povos, como uma espécie de chip da ignorância contra os diferentes e as diferenças, contra os estrangeiros, contra os ditos estranhos, contra os ditos inimigos em potencial, contra os não “Eus” que, pela globalização, passaram a ter que enxergar, sistematizando-se a sociedade dos mesmos, transformando, pela coação, pela “educação” ou pela coerção, o outro no mesmo.
Princípios de sustentabilidade, biodiversidade, educação ambiental, tolerância e respeito às diferenças passaram então a ser perseguidos como ideias biófilos por uma pequena parcela social e, por outro, por parte dos capitalistas, tentando mascarar suas reias responsabilidades, jogando a solução desses problemas para a própria sociedade, sabendo que a mesma não tem condições de resolvê-los.
Redefinições no caráter da educação, no papel da escola e no que diz respeito à função social do professor, passaram a soar como um imperativo, na medida em que a condição humana desumanizada passou a ser percebida como um produto da sociedade do capital, demonstrando a impotência da escola no enfrentamento desse problema.
Ou seja, a escola, hoje, nas sociedades do capital, é catastrófica porque reflete e reproduz essa sociedade perversa, corrompendo, impedindo o indivíduo que nela entra de educar-se de fato, de humanizar-se, de emancipar-se intelectualmente. Isto é, de poder desenvolver-se, desenvolvendo em si uma condição humana verdadeiramente humanizada.
A escola, hoje, não passa de um sofisma grego: o ideal da estátua. O ideal de poder vir a ser o eu mesmo, o mesmo sempre; ou então o outro, ser o outro completamente. A escola prega a missão, hoje, no mundo do capital, de poder transformar gruas em cisnes, mascarando o caráter perverso do capitalismo, uma vez que, ela, na verdade, simplesmente cria estigmas, cristaliza ilusões, sistematiza e justifica a exclusão ao, através dos diplomas e dos currículos, dizer, enganosamente, quem é inteligente e quem não é; quem terá sucesso e quem não terá; quem será incluído e quem não será.
III
Em todas as suas línguas, assim como os diferentes estados capitalistas, a escola mente. Exatamente aí está a catástrofe da escola. O que se sinaliza é que, sem que a escola venha procurar conhecer a si mesma, difícil será vislumbrar novas possibilidades de transmutação.
Repensar e redefinir os valores sociais, as políticas educacionais, eis os grandes imperativos da educação para e escola na era dos Estados capitalistas.
Todavia, como veremos nesse trabalho, as instituições educativas, como sendo ideologicamente reprodutoras e não transformadoras das sociedades do capital; como sendo reprodutoras dos valores Individualistas e Meritocráticos do capitalismo, tais quais salientaram vários intelectuais como Paulo Freire, no seu livro Pedagogia do oprimido e Pablo Gentili, no seu livro Pedagogia da exclusão, fracassa nesse processo. Ou seja, ao invés de educar, deseduca; ao invés de humanizar, desumaniza; ao invés de ensinar a pensar, adestra e treina o indivíduo para ter pensamentos.
Ou seja, a escola não transforma a sociedade, mas submete-se aos seus valores, reproduz e sistematiza-a com todas as suas mazelas sociais.
O autor
ISBN | 978-1479240425 |
Número de páginas | 160 |
Edição | 1 (2012) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
Tem algo a reclamar sobre este livro? Envie um email para atendimento@clubedeautores.com.br
Faça o login deixe o seu comentário sobre o livro.