Depois de traçado os esboços, de todo o exercício tedioso para se desamarrar os dedos, fazer mais leve a mão... Depois de incontáveis desistências, de se ver repleto o lixo, mas agora, não apenas produzir meros rabiscos; de se ter claro um desenho; um corpo definido, ainda que no pobre carvão, na sua dureza contrastada do preto no branco, do claro e escuro... Chega a hora do ensaio com o místico, com a delícia da cozinha, na mistura das tintas! Ensaio perverso, pois tudo se tridimenciona; ganha carne e desejo. Mais desejo, talvez... Que na sua alma o poema é suplício! E então é lidar com as cores... “Onde dou nova dimensão ao verso, refinada e sóbria; extinta a banalidade?”
Alça-se aqui um novo patamar na espiral. O exercício da escrita deixa de ser apenas a vazão num grito primal; num traço instintivo, cru... Para entrar no nível da devoção; do espírito joalheiro de trabalhar as frases, pinçar adjetivos, ordenar com precisão a agonia do verbo. Uma submissão necessária, uma adequação à disciplina, hoje tão negligenciada... Talvez... O contratempo para se amolar o machado, e mais ainda, a compreensão da necessidade disto! De se azeitar a máquina; de vê-la no seu correto funcionamento. Nada que esteja a olhos vistos. O serviço sujo só aparece a longo prazo, ou seja: desaparece! Se a escrita permaneceu, e se ela virá um dia a se vingar, se deveu inapelavelmente a este investimento “cromático” primeiro, e concomitante, uma irremediável teimosia!
“Cores” é novamente a transcrição simples agora do meu segundo caderno de poesias que levava este nome, escrito entre os anos de 1991 a 1994. Anos de faculdade, de pouco dinheiro, da primeira transa, dos conflitos de vocação, de se pensar em ganhar dinheiro... De memoráveis bebedeiras, de afirmação como macho, mas com a permanente sombra da solidão, da insatisfação e da recorrência à via poética. “Cores” ainda sofre pela demente comunicabilidade. É às vezes um quadro vazio, às vezes apenas uma garatuja, outras uma paisagem tola. Ainda não tem a minha aprovação para se dizer que é minha... Ou ela insistentemente me negue... Veremos.
Número de páginas | 483 |
Edição | 1 (2013) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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